sexta-feira, 12 de junho de 2009

?? Índio ??





A interdisciplina de Questões Étnico raciais, com certeza tem mexido muito com minhas certezas, desconstruindo preconceitos que eu nem imaginava ter. Não me via como uma pessoa preconceituosa, que considerasse outros grupos étnicos inferiores. Então porque como professora não trabalhava essa diversidade com meus alunos? Porque somente citava, muitas vezes com o auxílio do livro didático (pobre), os grupos que formaram o povo brasileiro? Pura falta de conhecimento. Preocupada com a aprendizagem, com a construção da leitura e escrita (minha grande paixão), com momentos lúdicos, deixava de lado esse rico assunto. Foi provado então, para mim, que para respeitar é preciso conhecer. A interdisciplina me conduziu a outros saberes, fui desafiada a pensar sobre esse outro, sobre a constituição do povo brasileiro. Fui atrás, e me surpreendi mais ainda vendo quanta coisa estava ali, tão perto de mim, colegas que já trabalham essa visão política e histórica da formação da atual sociedade, material empoeirando nas estantes da biblioteca, porque agora percebi o esforço público que está sendo feito para reparar anos de injustiça, quanto ao conhecimento nas escolas sobre esse assunto. O MEC, envia sistematicamente material de apoio sobre essa diversidade cultural, seja através de mídia como os DVDs do TV Escola, seja livros para os professores, kit como A Cor da Cultura, literatura infantil e juvenil sobre mitos, contos, vivências da cultura afro e indígena. E também livros didáticos que abordam o tema de uma maneira crítica, valorizando a diversidade. Este foi um dos elementos que procurei observar na escolha no PNLD (Plano Nacional do Livro Didático), que estamos realizando nesta época nas escolas. Realizei já algumas práticas, algumas exigidas pela interdisciplina, outras por motivação própria sobre o afrodescendente, sobre a diversidade cultural. Sobre os indígenas, ainda não realizei nenhum trabalho, até porque ainda não deu tempo. Com certeza esse será um dos meus próximos temas de trabalho, pois realmente as leituras, a busca e a reflexão me trouxeram essa necessidade. Quero fazer parte desta retomada da cultura indígena, com o objetivo de valorizar o que por muitos anos foi sendo escondido e negado por medo de discriminação.
O índio hoje, é considerado um cidadão que sente orgulho de sua origem, que possui características que evidenciam sua ancestralidade. Ser índio brasileiro, não é mais uma generalidade social, mas sim uma marca importante de expressão sociocultural, impulsionando conquistas políticas, resgatando sua tradição, conquistando o que é seu de direito. Não se aceita mais que neguem seu passado, que ao longo de 500 anos foi reprimido, sua identidade foi negada, processo esse que não teve escolha, sendo obrigados a abandonarem suas terras, em nome da expansão agrícola dentro de um processo de desenvolvimento econômico. Os que sobreviviam aos duros ataques, passavam a viver iguais aos brancos, assimilando uma nova identidade social. Todos esses acontecimentos não se deram simultaneamente, sendo assim há povos que preservam integralmente sua forma de vida, pois só tiveram esse contato com colonizadores mais recentemente.
A riqueza da cultura indígena impulsiona que se valorizem cada vez mais essas contribuições para toda a sociedade, respeitando as diversidades, identificando-as e aprendendo com elas. O conhecimento dessa riqueza em termos de práticas e crenças não pode mais ficar restrita à superficialidade apresentada nos livros didáticos de um tempo atrás, os quais, só mostravam a colonização sob o olhar do colonizador e de seus interesses, que consideravam-se mais evoluídos. Reconhecer as diferentes sociedades, os povos que as constituem, suas particularidades, não se trata de impor juízos de melhor ou pior de menos ou mais importantes e sim de perceber culturas equivalentes dentro de suas particularidades. Essa é uma condição de cidadania, de direito, de interculturalidade, que pressupõe a possibilidade de coexistir e conviver dentro de um mesmo espaço, aprendendo, interagindo, pois não existe cultura estática, imóvel ou fechada, o viver é sempre dinâmico e automaticamente em modificação.
Da Declaração Universal dos Direitos dos Povos, em 4 de julho de 1976: Artigo 1, da seção I : “ Todo povo tem direito à sua existência.”, Artigo 2 da Seção I: “ todo povo tem direito ao respeito por sua identidade nacional e cultural.”
GRASSI, Avelino. Oficinas pedagógicas de direitos humanos. Petrópolis: Vozes, 1995. p 50

Usei este espaço para relatar uma construção bem pessoal, pois primeiro é preciso que o educador se sensibilize, através do conhecimento, da reflexão, para depois contagiar seus alunos, mostrando mais caminhos existentes. Este, com certeza será meu próximo passo.

A intervenção do professor desconstruindo certezas

Ao sermos apresentadas às provas do método clínico piagetiano, fomos exercitando uma intervenção individualizada, focada nas respostas dos alunos, procurando desacomodá-lo em suas certezas, para que argumentem, justifiquem suas conclusões, desenvolvendo-se. As provas consistem em testagens com material concreto de conservação de quantidades, comparação. O que quero trazer aqui, como uma construção particular que enriquecerá minha prática docente, não se trata do método clínico em si, mas sim de um momento onde o professor possa atuar de forma individual com seus alunos, com intervenções bem pontuais, onde as respostas dão origem a vários outros questionamentos, onde o olhar do professor e a escuta estarão bem direcionadas para o processo de construção de hipóteses feitas pelo aluno.
Este ano, tenho a possibilidade de trabalhar individualmente ou em grupos pequenos separadamente uma vez por semana em duas horas, com alunos de minha turma, que eu sinta a necessidade de um atendimento particular. Estes momentos tem sido mais produtivos após o estudo que tivemos do método clínico, pois pude me dar conta da importância desta escuta do professor, onde as tarefas são realizadas e o professor constantemente indaga o resultado, o caminho percorrido, onde o põe o aluno em conflito, o desafia. Por ser sozinho com o aluno a integração é muito boa, o aluno sente-se seguro de se expor só com o professor, a relação também sai fortalecida, a tranqüilidade do espaço também favorece muito. Com certeza o ambiente coletivo da sala de aula é produtivo, se socializa e se aprende muito com o outro, mas um espaço assim, individual professor e aluno falando sobre o aprender, fazendo junto, perguntando a opinião do aluno, fazendo-o pensar é muito enriquecedor.

A experiência com projetos de aprendizagem






Durante nosso planejamento diário, procuramos formas de adequar nossas práticas com um maior envolvimento dos alunos, buscando assim mais comprometimento, significação e prazer. Nem sempre é possível ou acontece. Com projetos, nos desafiamos a instigar os alunos para que demonstrem mais sua curiosidade, pensem mais a respeito do que lhes é apresentado, perguntem o porquê e o para quê, assim como o quando e o como de tudo que lhes é informado e dito como verdadeiro. Sendo assim, tornam-se mais questionadores, nos desafiando a instrumentalizá-los para que possam buscar suas respostas, fazerem suas descobertas, comprovarem suas hipóteses.
Num desses momentos, surgiu a curiosidade individual, depois coletiva de saber como se deu esse processo de invenção do escrever, como foi esse processo de querer registrar histórias, falas, fatos, recados. Como nossos antepassados inventaram esse código tão importante.
Nos organizamos então para a pesquisa, primeiramente conversamos onde poderíamos buscar essas respostas, as alternativas foram livros e na internet. Tiveram então um primeiro momento bem livre de busca, que correspondia a um final de semana. O material que veio foi socializado e complementado por mim. Não pensem que o material trazido foi de ótima qualidade e que todos trouxeram, o que veio foi impresso e talvez nem lido da internet. O importante foi não abandonar a idéia, selecionei algumas informações, lemos e apresentei o que eu trouxe, sim, o professor tem que agarrar a idéia e ir em busca da curiosidade de seus alunos.
Trouxe para complementar a coleção de livros que fala sobre as invenções da escrita, das letras, de gestos, de símbolos, do lápis da Ruth Rocha. Os livros foram bastante manuseados, puderam ler a respeito das construções dos povos antigos. Organizamos momentos de apresentação dos temas. A partir das descobertas sobre o processo de construção da escrita da humanidade, criamos escritas particulares através de códigos, mensagens enigmáticas. Vivenciaram esse processo de escrita pictográfica (através de desenho) e ideográfica (através de símbolos). Foram expostas nossas descobertas através de murais, onde diariamente complementávamos com mais informações.
Este foi o primeiro assunto desenvolvido com essa turma que houve uma participação mais efetiva e ativa dos alunos, foi considerado por eles um assunto extremamente relevante e que despertou o interesse pela história dos povos antigos. Já circula entre eles bilhetes secretos com códigos criados por pares, compreendendo assim o verdadeiro sentido da escrita que é o da comunicação, nesse sentido o de uma comunicação com um receptor específico. Também puderam perceber as várias funções da escrita, de registro, de comunicação, para si, para o outro.
Alguns relatos e fotos evidenciam o envolvimento dos alunos nesta atividade que exigiu participação desde o planejamento e que deixará importantes aprendizagens.

P.S As fotos não ficaram boas, as primeiras que tirei com minha máquina digital perdi, pois ela estragou, estas fiz com o celular pelo menos para dar uma ilustrada.