terça-feira, 21 de abril de 2009

Eu, eu e os outros




Eu sou Gisele Bervig Martins, tenho 31 anos, professora, aluna da Pedagogia distância da Ufrgs.
Descrever-me tendo em vista minhas características físicas, após observar-me no espelho durante a aula presencial, não foi tarefa fácil. É estranho descrever algo tão próximo, sem acabar reclamando de alguma coisa. Acaba vindo à tona dúvidas de como será que essa imagem é interpretada pelos outros, como passo o que sou através de minha imagem. Sabemos que essa imagem, esse corpo é o que faz contato com o mundo externo, é o que atrai e também afasta as pessoas. Hoje ainda mais, quando corpo/ beleza são aspectos tão valorizados.
É certo que imagens alegres nos atraem instintivamente, as tristes nos causam certo mal estar, enquanto que as agressivas nos põe numa posição de defesa ou de ataque. Por isso uma imagem serena, tranqüila e feliz é o que mais desejo passar. Nem sempre consigo, pois as batalhas do cotidiano criam uma armadura para dar conta de todos nossos papéis. Uma coisa que procuro preservar é o meu sorriso, às vezes singelo, mas na maioria das vezes escancarado. Rio, sorrio, muito, de mim mesma e de situações até não tão agradáveis. Esse sorriso sai da boca, que talvez seja a parte mais marcante do meu rosto. Apesar de ter um rosto pequeno, que tem em seu contorno um cabelo ralo e fino tenho traços bem expressivos, olhos, boca e até nariz grandes, dentro deste contexto. Herdei essas características de meu pai, descendente de “brasileiro”. Esse brasileiro, gostaria de explicar, era falado pela família de minha mãe, de descendência alemã, e isso na minha infância me causava estranheza, pois todos éramos brasileiros. Quando questionava me explicavam que ele seria descendente de uma mistura entre índio, negro, português e espanhol, não sabiam ao certo. Achava esquisito, pois na escola esse “conceito” não se encaixava, estudei lá pela terceira série, o que eram mulatos, mamelucos e cafuzos, esse último me parecia muito parecido com confuso, torcia para não pertencer a essa “raça”. Sim, pelas palavras de minha avó, brasileiro era raça. Apesar de ter esses traços, sou branca como minha mãe, só não herdei os olhos verdes. O cabelo mais escuro contrastava demais com minha pelo, então fui clareando aos poucos, me tornando loira. Hoje quase ninguém acredita que meus cabelos são escuros.
Dentro deste histórico, que citei acima, convivi com conceitos bem preconceituosos, muitas vezes ouvi pequenas discussões com esse tema, ouvia minha avó falar da superioridade dos imigrantes alemães, que foram eles que trabalharam duro para construir o Rio Grande do Sul, por exemplo. Até quando víamos uma casa mais organizada, com jardim bonito sempre ouvia que deveria ser de alemão. Aos poucos a família foi aumentando e vieram mais “brasileiros”, italianos, afro descendentes, diminuindo esse tipo de comentário.
À medida que cresci, com mais maturidade fui conseguindo identificar características de comportamento dos meus pais, em mim. Geralmente na adolescência, negamos isso, mas o fato é que quanto mais crescemos mais vemos que somos parecidos com nossos pais. “A fruta não cai longe do pé”, realmente, apesar de outras vivências, outras oportunidades, formação, reconheço em minhas atitudes, algumas crenças a forte presença do que fui ensinada, jeitos e gostos pessoais. Penso que sou uma mistura, de ambas as partes, em quantidades proporcionais, que acabam se complementando. Se realmente são os opostos que se atraem, e nos caso dos meus pais vejo um pouco disso, é nos filhos que essa mistura tende a dar mais certo. Será? Muito falante (como minha mãe), adoro sair (como meu pai), dou um boi para não entrar numa briga... (como meu pai), sou muito preocupada com os que amo (como minha mãe), acredito que vencemos através do trabalho (como meu pai), penso que o conhecimento é a melhor recompensa que possa ter ( como minha mãe), leio tudo que cai nas minhas mãos (como minha mãe).
Me constituo assim, professora, esposa, mãe, filha, irmã, amiga, protetora, curiosa e empenhada, às vezes bem preguiçosa (pra compensar a jornada dura) que procura fazer um trabalho com os alunos baseado neste autoconhecimento, nessa percepção de importância do nosso passado, de nossa base, dessa socialização com o outro, aprendendo e aceitando os costumes de cada um.

O CLUBE DO IMPERADOR

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A indicação do filme foi excelente, pois ele sai do óbvio ao colocar um professor em vários conflitos morais. O que é certo e errado quando se trata de educar? Devemos pensar a curto ou a longo prazo? Muitas de nossas ações com nossos alunos, justificamos que com o passar do tempo, com o amadurecimento irão nos dar razão, que uma negativa hoje, uma frustração pode significar uma grande aprendizagem. No caso do filme, o professor recebe um aluno problema, indisciplinado, desinteressado e um tanto quanto abandonado pelo pai. Ao perceber que o menino não interessa-se pelos estudos mesmo sendo muito capaz, o professor o expõe a uma situação que ele mesmo possa sentir-se inferior por não esforçar-se,desafiado. Esta situação desencadeia uma reação positiva do menino que demonstra ser muito competitivo. A partir daí inicia um processo de melhora que faz o professor acreditar que está dando passos importantes para sua formação, incentivado pelos primeiros resultados o professor toma uma atitude errada, mas justificável e carregada de boas intenções. Aumenta a nota do aluno, classificando-o para uma disputa importante na instituição, em troca faz com que outro aluno saia prejudicado, tirando-lhe o direito conquistado, também com estudo, de ir adiante na competição. É mais ou menos como decidir quem continua vivendo, quem merece mais? O mocinho ou o bandido regenerado? O professor não conseguiu avaliar a prova sem levar em conta o processo como um todo e isso é altamente positivo, no entanto vê-se diante de um conflito,promover o "mau aluno" até então, acarreta na desclassificação do "bom aluno". Nesse caso o professor pensa ser mais valoroso não interromper o processo ascendente do "mau aluno".
Quantas de nós faríamos a mesma coisa, pois os "fins justificam os meios"? No caso do filme o professor irá amargar uma decisão errada pois não foi bem sucedida, o menino não continuou esse processo iniciado pensado pelo professor. Daí o arrependimento. E se o desfecho fosse melhor, se o menino tivesse sido a partir daí um brilhante aluno, um grande homem, estaria justificado a troca das notas? O pecado não seria tão grande?
O filme é duro quando nos coloca na realidade que nem todo final é feliz, e que em muitas vezes nossas apostas não vencem, a escola não consegue sozinha dar conta do caráter de alguém. Há sim toda uma bagagem familiar, social, que educa, que forma, que corrompe.E nós lá... tomando decisões como a desse educador, que por vezes não envolvem um terceiro elemento diretamente. Mas quantas aprovações e reprovações assinadas por nós vieram carregadas destes critérios "justos"? Como avaliamos? O professor apostando no bem, no resgate de um indivíduo, estava certo?
Na minha opinião... Sim! Ele tomou a decisão mais acertada, ele acreditou, deu continuidade a um sonho que estava vendo tomar forma, na maneira como ele concebia a educação, aquele menino estava se encontrando, seu potencial estava sendo descoberto, era uma troca "bondosa". Mesmo sendo importante para o outro menino aquela conquista, naquele momento era necessária.
O filme me fez pensar muito, no certo e no errado, naquela mãe que acaba dando atenção maior a um dos filhos e justifica que é por necessidade, na professora que dedica mais tempo ao aluno mais carente. São tantas escolhas, é tão difícil a tomada de posição, de um lado o coração e do outro muitas vezes a razão. Na nossa profissão, esse olhar observador sensível nos desacomoda, nos dói, mas nos faz cada vez mais humanas. É o preço que pagamos por trabalhar com gente! Que bom!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A inclusão de PNEE presentes em meu trabalho como educadora

Sou professora há 13 anos, durante este tempo passei por várias séries, com crianças bem pequenas e até adultos. Aprendi muito com todos eles, e tenho certeza que não sou a mesma. Foram nas salas de aula, muitas de alfabetização, que enfrentei grandes desafios, as dificuldades da educação como um todo, que perpassam os aspectos sócio-econômicos e chegam até nosso trabalho diário. Mas, sem dúvida o que mais inquieta dentro deste espaço e tempo são as dificuldades no processo de aprender. Não foram poucos os casos que me tiraram o sono, por não compreender o que se passava dentro daquelas cabecinhas. Me via, muitas vezes, mais ansiosa e preocupada do que os próprios pais, demorei para encarar com mais naturalidade o fato das famílias aceitarem tão bem o não aprender. Envolvidos na guerra do sustento sobra pouco tempo para a educação de seus filhos. Tantas e tantas vezes senti falta de um laudo, algo bem sistematizado que me explicasse, como uma fórmula matemática o que faltava para que as ligações fossem feitas, para que houvesse significado nas atividades que fazíamos e como num passe de mágica ele pudesse então se alfabetizar. Nunca tive alunos com necessidades especiais visíveis, aquelas que comovem, chamam a atenção ou até apavoram. Também não tinha preconceito, mas sempre pensei que as coisas não acontecem por acaso, e que se recebesse um aluno com um problema mais sério deveria estar preparada, primeiro para não me abalar, não me frustrar, saber lidar com um tempo diferente e segundo para ser útil, não só como ser humano, mas principalmente como professora.

E o ano de 2009 chegou, além de minha turma de 4º ano e um projeto de turno integral, à noite estou trabalhando com Arte para alunos de Eja (Etapas Finais), de 15 a 55 anos. São 4 turmas, bem numerosas por enquanto e bem difíceis, por agregar casos de alunos com uma bagagem grande de frustrações, dificuldades, crimes, drogas e toda espécie de problemas pertinentes à uma área bem carente invadida em um enorme bairro de uma grande cidade. Pois lá, em uma etapa 7 (7ª série), encontrei o meu caso mais notório de inclusão. Um rapaz de 19 anos, sorridente, falante que apresenta deficiência visual. O primeiro dia na escola, com sua chegada foi de adaptação, precisamos acomodar a turma no andar debaixo. As colegas que foram entrando durante a semana, vinham com notícias que se tratava de um rapaz bem interessado, que se expressava bem, trabalha com o braile, e que estava sem enxergar há 3 anos, devido uma doença grave e rara que destruiu seu nervo óptico. Eu fui entrar na turma na sexta feira, após o intervalo, ou seja só restava a ele ser apresentado para a disciplina de Artes. Entrei, me apresentei, expliquei o programa, fizemos combinações, pedi que se apresentassem, tudo de forma natural. Quando iniciei o trabalho do dia, que se tratava de uma atividade abstrata ao som de uma música, para posterior troca com colegas, ele, sentado à minha frente, foi logo explicando: “sou deficiente visual, como vou fazer?”. Mesmo sabendo que enfrentaria essa situação e já tendo pensado que tentaria auxiliá-lo fiquei um pouco desconcertada. Iniciamos um diálogo bem descontraído, onde pude ir contextualizando o que estávamos fazendo, passando por uma conversa ente um pequeno grupo que estava mais próximo a mim e a ele, sem tocar no assunto da necessidade que ele apresentava. A cada aula, conversamos mais um pouco, falo muito com ele sobre Arte, ele demonstra muita curiosidade, tem muita sensibilidade e aos poucos vai contando como é tornar-se portador de uma necessidade especial, bem em meio à adolescência.

Por enquanto, sei muito pouco de como incluí-lo mais nas aulas, já trouxe músicas sugeridas por ele, sempre pergunto sua opinião. Tenho hora agendada com um professor deficiente visual, coordenador de uma associação que ele freqüenta, mas o próprio já me antecipou que não possui material específico que irá me instrumentalizar. O que ele fará é me dar uma noção de como usar a linguagem, que expressões, como conduzir o tema de forma falada. Estou bastante ansiosa para poder ser mais útil, na aprendizagem do E., penso que minhas falas podem contribuir com sua integração, motivação na escola. Por enquanto, é só...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Interdisciplinas 2009/1

Neste semestre iremos trabalhar com as Interdisciplinas: Questões Étnico Raciais, Desenvolvimento da aprendizagem sob o enfoque da Psicologia II, Filosofia da Educação, Educação de pessoas com necessidades especiais e o Seminário Integrador que estará além de acompanhar todas as Interdisciplinas, encaminhando o trabalho com os Projetos de Aprendizagem.Dentro deste contexto farei reflexões e relações com meu trabalho de professora. Este ano, estarei trabalhando com uma turma de 4º ano, um projeto ligado ao Mais Educação (programa federal de turno integral) e com Artes para turmas de Eja. Muitas atividades, que requerem organização para dar conta de todas elas. Neste espaço e tempo teoria e prática caminham juntos, visto que o Pead nos dá essa possibilidade.
A Psicologia como forma de estudo para compreender os processos de como se ensina e como se aprende realmente me desperta bastante interesse. A fala da professora Tânia, na aula presencial (08/04/2009), nos salientou muito isso; que para o professor não basta saber, é preciso saber como se sabe, ou seja, como se aprende, como se ensina.
A Filosofia, torna-se um campo bem importante de estudo até pelo caráter histórico que traz da evolução do pensamento humano. A interdisciplina está possibilitando e nos desafiando a ter uma escrita dissertativa, mais lógica e argumentativa.
Educação de pessoas com necessidades especiais, traz questões bem amplas da inclusão destes sujeitos no espaço escolar, desde a questão do direito, da igualdade, o trabalho do professor como instrumento de desenvolvimento, de acordo com suas especificidades. Torna-se imprescindível o diálogo e o debate como forma de construirmos possibilidades, para que a educação em nossas escolas se dê o mais verdadeiramente possível.
As Questões étnico raciais permeiam não só nossa prática profissional,mas toda nossa vida enquanto cidadãos de uma sociedade tão plural como a nossa. Somos um povo constituído por diferenças, misturas de várias raças compõe o brasileiro, e hoje dentro desse território tão grande vemos separações e exclusões de todas as formas, de classes, de credos,de cor, de cultura. Aparentemente muito aberto, o brasileiro encobre o preconceito. Com a educação precisamos trabalhar essas questões, primeiro conhecendo, depois identificando as diferenças, sublinhando as semelhanças na questão do direito e da igualdade para que o respeito ao outro seja real.