domingo, 29 de novembro de 2009

Projeto Eja

Aproveito este espaço para dividir mais uma conquista que tive enquanto professora de EJA. Neste final de ano recebemos algumas orientações referentes a uma nova perspectiva de espaço e tempo no trabalho com EJA na rede municipal em que trabalho. Muitas inquietações, dúvidas e desafios. Desacomodada e instigada, me propus a pegar esse caminho e trilhar com algumas possibilidades, para isso iniciei a estrutura, junto com minhas colegas, de um projeto que contemple algumas especificidades do nosso público numa visão que privilegie a pesquisa no trabalho com projetos de aprendizagem.A princípio este projeto já teve aprovação da mantenedora, precisamos articulá-lo, estudar muito, nos preparando para essa prática nova. Veremos!!!!
Então posto aqui, um esboço dessa construção:

PROJETO INCENTIVO À LEITURA, PESQUISA E TECNOLOGIAS
EJA/2010

Justificativa:
Temos a oportunidade de neste ano lançar um olhar mais particular para a modalidade EJA que, sem dúvida, necessita de um trabalho que identifique suas potencialidades e as amplie.
O trabalho com jovens e adultos deve contemplar inicialmente como diria Freire, uma leitura de mundo. Sendo ele produto de uma sociedade excludente, é dever da escola resgatar sua cidadania promovendo aprendizagens que efetivamente o incluam.
Desse modo, a Eja é simplesmente Educação: processo de formação do ser humano para viabilizar e executar a transformação em si mesmo e no mundo, criando e recriando valores e conceitos, buscando sentido e significado para tudo que se faz. AGUIAR (2001)

O projeto Incentivo à leitura, pesquisa e tecnologias alicerça-se na fundamentação de promover a motivação para a descoberta, através da pesquisa, de estudo, de socialização destes saberes construídos.

Objetivos:
• Ter um espaço novo que foque na pesquisa como forma de construção coletiva de ensino-aprendizagem.
• Realizar um trabalho que leve os alunos a se responsabilizarem e se autorizarem mais em seu processo de ensino-aprendizagem.
• Aguçar a curiosidade, a descoberta, a socialização dos saberes compreendendo o caráter mutável e participativo do fazer pedagógico, contrariando o processo de escolarização ultrapassado a que muitos têm como referência.
• Promover maior integração entre os alunos ao buscarem alternativas, selecionarem ferramentas em seus projetos de pesquisa.
• Integrar mais o grupo de professores, buscando coletivamente estratégias de ensino-aprendizagem independente das áreas em que atuam.
• .Resgatar o trabalho em grupo, valorizando as parcerias entre professores e alunos, de forma que sintam a integração neste trabalho de pesquisa.


Sistematização:
Dentro da proposta de trabalharmos por áreas de conhecimento e entre essas áreas haver uma integração por grandes eixos temáticos, as turmas uma vez por semana terão um trabalho mais voltado para a pesquisa, ocupando espaços que propiciem esse desenvolvimento (laboratório de informática, laboratório de ciências e biblioteca escolar). Os alunos serão auxiliados por professores que estarão engajados, não só na proposta da pesquisa, como também no trabalho nas salas de aula. Cada turma será dividida em três grupos que se revezarão nos espaços sob a tutoria dos professores. Cada grupo será composto por 1/3 da turma.
A proposta inicial será o levantamento de questionamentos feitos por cada turma, onde os alunos serão instigados a levantarem questões, curiosidades, problemáticas que avaliam serem necessárias para o seu desenvolvimento. A partir das perguntas surgidas faz-se a seleção e divisão por assuntos de aproximação formando assim grupos de pesquisa com temáticas relacionadas. Será feito então por grupos um planejamento referenciando as dúvidas, as certezas, os encaminhamentos, as estratégias, mapas dos conceitos envolvidos, plano de ação. A dinâmica dos trabalhos contará sempre com o auxílio direto dos professores das áreas e dos professores responsáveis pelos espaços. Como culminância do projeto haverá apresentação de todos os temas trabalhados para todos os grupos, com exibição dos dados encontrados, relatos, resultados de pesquisas, dividindo assim com os demais grupos o estudo desenvolvido. Os registros durante todo o processo serão necessários para encaminhamento, comprovação e avaliação tanto do resultado encontrado, como do caminho articulado.
Esta é uma prática que nos desafia e ao mesmo tempo nos encanta pela possibilidade de ter e dar mais autonomia na construção do saber para o aluno. Desta forma, nós professores e equipe diretiva, assim como a Secretaria de Educação estamos desconstruindo algumas práticas em prol de outras em que acreditamos. Sabemos das dificuldades e principalmente dos ajustes que serão necessários, porém ao incorporarmos estas mudanças estamos colocando em prática alguns de nossos sonhos e com certeza resignificando o espaço escolar com positivos avanços.
Este é um pequeno esboço de um planejamento que será construído coletivamente com todos nós professores em nossos espaços de formação e planejamento, porém acreditamos que a proposta inicial de otimização e sistematização dos espaços de laboratório de informática, ciências e biblioteca já trará aos nossos alunos da EJA um novo olhar sobre a importância dos estudos e ao nosso grupo de professores o desafio de por em prática efetivamente espaços pouco utilizados, assim como, criar alternativas de um trabalho que venha ao encontro dos nossos alunos, tornando-os mais preparados para os saberes da vida. Para finalizar Morin “Creio que esta reforma requer um pensamento que religue, um pensamento complexo, pois não se pode reformar o sistema de educação sem, previamente, ter reformado os espíritos e vice-versa.”


domingo, 8 de novembro de 2009

“A Eja tem agora objetivos maiores que a alfabetização” Sobre Reportagem lida em Nova Escola, julho de 2009.


Na revista Nova Escola de junho de 2009, li a entrevista de Timothy Ireland, um especialista inglês representante da Unesco que fala sobre Eja. A seguir algumas reflexões minha as partir de alguns trechos lidos.
Sobre o caráter compensatório da Eja, Timothy cita que a Unesco trabalha em cima de quatro pilares que são o aprender a ser, o aprender a viver junto, o aprender a fazer e o aprender a conhecer, numa perspectiva de aprendizagem contínua. Essa aprendizagem contempla a individual, a profissional e a social.
Isso não é pouco, é com certeza a educação de fato, o empoderamento através do conhecimento, nosso aluno, precisa compreender o seu eu cidadão, com possibilidades, suas capacidades individuais para realização pessoal, assim como a participação que tem no grupo, seja este grupo, a família, a escola, o bairro, o país. Ele precisa perceber sua carga de direitos e deveres para com este espaço que ocupa, ele precisa tomar para si essa responsabilidade, com o contexto que o cerca. Paralelo a esta tomada de consciência, precisa exercitar o fazer, que não é antes nem depois, é contínuo e resultado de aprendizagens de informações, de interpretações da realidade. Aos poucos se percebe parte de um processo, de um núcleo social. As relações podem e devem ser debatidas nas nossas salas de aula de Eja, ao alfabetizarmos, letrarmos, incorporarmos práticas educativas que contemplem as relações, as emoções reconhecidas nestas relações, praticando novas possibilidades de convivência, de respeito. Temos com estes jovens e adultos uma grande possibilidade de abordar temas conflitantes de nosso entorno, como o da violência, que ao convidarmos nossos alunos a refletir, problematizar, se expor estamos trabalhando efetivamente para uma mudança de atitudes, precisamos crer que é assim que podem acontecer.

A rotina do planejamento


Há bastante tempo ouvi de uma palestrante que a rotina é algo extremamente saudável em nossas salas de aula. Sua fala nos convencia que rotina não é algo enfadonho, e sim uma sistematização importante para dar conta do ensinar e do aprender. Em nossas comunidades muitas crianças sentem falta de uma organização onde possam se sentir seguras. No ano passado ao trabalhar com 1º ano, procurei estabelecer uma rotina para com as crianças, assim como uma rotina “secreta” para meus planejamentos, que pouco a pouco as crianças também foram a percebendo. Na interdisciplina de Linguagem exercitamos uma prática de planejamento muito parecida com que desenvolvi. Diariamente meus alunos chegavam à sala, organizavam-se nos grupos, distribuíamos os crachás, com técnicas diferentes, por sorteio, por grupos, aleatórios, cada um escolhendo um colega, por cor de roupa, e assim por diante. Depois preenchíamos o calendário, com o desenho do dia, o número, depois a chamada, onde se registrava o número de meninos e meninas, quantos grupos seriam formados. Distribuição do material, roda da conversa (às vezes orientada, outras livre, momento para combinações, recados) Iniciávamos então as atividades do dia, sempre após eles terem uma visão de como seria a tarde. Então se sentiam mais seguros, não pediam para fazer outra atividade fora da combinada, não ficavam ansiosos para saber o que iriam fazer, esse era o momento de sugestões que procurava acomodar. Todos os dias, líamos, escreviam, brincávamos, cantávamos ou pelo menos ouvíamos uma música. Quase que diariamente, trabalhávamos com jogos, com algum material de modelagem de sucata, massinha, papel amassado, algum tipo de arte plástica, pracinha, e outras atividades. Tínhamos também hábitos na sala de organização do material, movimentação nos espaços da sala, acomodação, maneiras de expor e guardar os trabalhinhos que deixavam a aula bem tranqüila, apesar da agitação normal de crianças de 6 anos. Houve momentos em que professoras foram me substituir e ficaram surpresas com a maneira como estavam organizados, independentes e cobravam certas rotinas. Passavam exatamente o que era para fazer. Dessa forma, cultivamos hábitos saudáveis, regras de convivência, que uma vez estabelecidas e combinadas certamente diminuirão os problemas de conduzir as atividades. No final de cada aula, havia além de um período livre, um espaço para uma espécie de show de apresentações, onde cada um que se inscrevesse podia narrar uma história, cantar uma música, contar uma piada, apresentar algo que queira para os colegas. O planejamento se dava de uma forma muito colaborativa, onde os alunos começaram a incluir atividades com sugestões, a partir do que já fazíamos, como por exemplo, após uma contação de história sugeriam a dramatização desta, ou inventar uma música. A leitura, a escrita estavam tão presentes que ao final do ano, mesmo sem esta obrigatoriedade muitos já estavam alfabetizados. Ampliar o mundo escrito foi fundamental, aprenderam a escrever seu nome como forma de se identificarem e identificarem seus pertences e produções, logo descobriram que identificar o nome de seus colegas de grupo era muito importante, na medida que havia rodízio dos colegas de grupo, aprendiam novos nomes ampliando cada vez mais as relações de leitura e escrita.
E esse planejamento não é válido somente para alunos pequenos, para os maiores, se não estão acostumados dá um pouco mais de trabalho, mas também dá bons resultados, uma maneira prática é a de sempre socializar com eles o planejamento, as estratégias, os encaminhamentos, incorporando as sugestões dadas por eles, dessa forma se sentem valorizados e motivados.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Imagens para refletir





A narrativa infantil




Ao abordar a temática da narrativa, logo nos vem à mente a narrativa escrita, como se essa não precedesse a narrativa oral, aquela espontânea onde a criança relata episódios vivenciados, ouvidos, ou simplesmente imaginados. É desta fala organizada direcionada a alguém que ele formará grande parte de sua habilidade de expressão. A escola por muitas vezes inibe a oralidade do aluno, são poucas as oportunidades dadas para que se utilizem da fala para defenderem pontos de vista, organizem e demonstrem suas construções de aprendizagem. Quando chegam às séries finais muitas vezes são cobrados a apresentarem trabalhos, relatarem pesquisas e demonstram grande dificuldade por não terem experienciado nos anos iniciais.
A construção da escrita passa obrigatoriamente pelo exercício da oralidade, da troca entre os pares, onde será desafiado, ampliando assim sua capacidade de comunicação.
Estas questões levantadas na interdisciplina de Linguagem e Educação me fizeram não só refletir sobre o tema, mas realmente pautar ações que levem em consideração a importância do contar, recontar histórias, expressar sua opinião, relatar um raciocínio, explicar um conceito, falando. É importante que o aluno se aproprie e exercite as diversas funções da linguagem falada no cotidiano, assim como perceberá na escrita. A formalidade de um momento de apresentação, a idéia central a ser passada, o foco de um assunto a ser comunicado, como um recado, por exemplo, levará os alunos a estabelecerem relações importantes para essa construção que lhe renderá bons frutos na sociedade.
Dessa forma estabeleci em meu planejamento momentos diários onde a oralidade é valorizada.
Leitura de jornal diário e apresentação para a turma.
Explicação oral do raciocínio desenvolvido durante um desafio matemático.
Opinião pessoal sobre compreensão textual.
Narração oral de história a partir de cenas.

Métodos de alfabetização



As questões dos métodos de alfabetização percorrem cotidianamente nossa prática docente. Há quatorze anos quando me tornei professora, fui premiada com a missão de alfabetizar. Coisa que o curso de Magistério contemplava em uma única disciplina que pouco ampliou nosso olhar e tão pouco nos instrumentalizava. De posse então de muito querer e com o dever de fazê-los ler e escrever (sim, o dever era meu, pois tomava para mim, todo o sucesso e o insucesso daquela construção, que inocentemente pensava ser totalmente arquitetada por mim) arregacei as mangas e onde quer que falassem que haveria uma formação, lá estava eu. E era nessas conversas nos intervalos de oficinas, seminários e cursos de alfabetização com outros alfabetizadores que a pergunta insistentemente vinha: “Qual é o método que tu usas” ou então “És tradicional ou construtivista”. Como a pergunta era muito comum presenciei que as mais experientes na função respondiam categoricamente ”Um pouco de cada”. Logo passei a incorporar o chavão e me autodenominar tradicional construtivista. Mas de fato em minha prática quais eram os norteadores do meu trabalho Como acreditava que o “milagre” da alfabetização se dava Era com o “estalinho” como sistematizava minha prática
Seguindo os mesmos passos das crianças em fase de alfabetização, iniciei minhas construções fazendo hipóteses, testando, sendo desafiada por meus alunos, colegas, me pondo em conflito. De maneira muito responsável e querendo fazer um trabalho de sucesso, busquei e ainda busco ferramentas que enriqueçam minha prática diária.
Ao planejarmos um trabalho de Linguagem temos que utiliza-la de todas as formas e em variadas situações. Ouvir nossos alunos e fazer intervenções desafiadoras, por vezes conflitantes, é uma das mais importantes e eficazes ações para fazê-los progredirem. O fazer junto, o permitir o erro, sabendo que este é o primeiro estágio do acerto, que tem significado, que é resultado de um processo mental de organização do saber, que servirá de base para toda organização e planejamento de nossas ações didáticas.
Assimilar que o fazer é construir e desconstruir continuamente, organizando informações, acomodando conceitos, confirmando saberes.
Estou certa de que qualquer técnica, método, filosofia de trate das relações de ensino e de aprendizagem devem priorizar a qualidade das relações dos envolvidos seguidas de um planejamento responsável, estruturado e constantemente avaliado. Na pessoa de educadora, referencio Piaget (1984) quando nos diz:
“Mas é evidente que o educador continua indispensável, a título de animador, para criar situações e armar dispositivos iniciais capazes de suscitar problemas úteis à criança, e para organizar, em seguida, contra-exemplos, que levem à reflexão e obriguem ao controle das soluções demasiado apressadas: o que se deseja é que o professor deixe de ser apenas um conferencista e que estimule a pesquisa e o esforço, ao invés de se contentar com a transmissão de soluções já prontas.”


domingo, 18 de outubro de 2009

Lendo e assim aprendendo a partir da EJA

Em busca de maior compreensão, reflexão e claro, AÇÃO, estou me apropriando de um material, encontrado na escola. É engraçado, quanta coisa, boa, importante se acumula nas prateleiras das salas de Supervisão Escolar ou mesmo em nossas bibliotecas escolares que desconhecemos. Foi assim com o material que me acrescentou muito em relação ao tema afrodescendente,no semestre passado e está sendo agora com o material sobre EJA, “Trabalhando com a Educação de Jovens e Adultos”, publicado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e diversidade do MEC em 2006. Neste material encontramos apanhados importantes a respeito do público atual desta modalidade, os desafios do processo e da relação professor e aluno, o espaço de convivência e é claro a alma escolar, planejamento e avaliação.
Excertos importantes de autores como Madalena Freire, Ângela Kleiman, Antônio Novoa, Paulo Freire, Sonia Carbonell Álvares, sendo que esta última trata de um assunto diretamente interessante para meu fazer diário. Ela escreve sobre Arte e Estética para Jovens e Adultos: as transformações no olhar do aluno; como trabalho com Artes em turmas de Eja, fiz articulações importantes em minha prática. O limite neste trabalho de apresentar o novo, a cultura como uma manifestação humana de tempos e espaços diferenciados sem esquecer a particularidade daquele aluno, daquele grupo, daquela comunidade. Essa ligação é fundamental para que não se sintam excluídos e permitam-se avançar, conhecer o que está do outro lado. A entrada num museu, por exemplo, a primeira ida, é mais difícil, pois o desconhecido gera um preconceito enorme. Museu= Lugar de coisa velha, distante da minha realidade. Depois que envolvemos esse aluno, e ele começa a conhecer outros lugares, outras linguagens, a auto-estima se eleva, ele se permite novos assuntos, ele abre os olhos para coisas que antes não via. Seguidamente, fico extremamente feliz, quando meus alunos, vêm com recortes de pedacinhos de jornal onde aparece algum consagrado pintor, ou a notícia de alguma exposição. Ora se antes aquilo passaria batido, agora seu olhar na imprensa não busca só a notícia popular da injustiça, da crise, do crime, ele já se abriu para um algo mais.
“[...] a prática educativa é tão interessada em possibilitar o ensino de conteúdos às pessoas quanto em sua compreensão do mundo. Dessa forma são tão importantes para a formação certos conteúdos que o educador lhes deve ensinar, quanto a análise que façam de sua realidade concreta.” Paulo Freire

Podemos dizer que a partir de Paulo Freire, se lançou um olhar mais atento ao processo educativo de jovens e adultos. Há uma maior preocupação em comprometer-se com a realidade, em trabalhar de forma democrática e assim mais eficaz. É claro, que daquele tempo, até agora, novas linguagens foram desenvolvidas, novos saberes estão sendo apresentados, há novos paradigmas, portanto novos desafios!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O trabalho na Eja

Com certeza, neste semestre minhas maiores expectativas se encontram além da área da Linguagem, uma paixão antiga e da Didática que contempla toda a questão do trabalho pedagógico, das intervenções e da avaliação, na interdisciplina de Eja.
Ao trabalharmos com a Educação de Jovens e Adultos nos deparamos com questões muito fundamentais de todo o trabalho de educador, nos questionamos e nos conflitamos muito. Há nos dias atuais um grande número de jovens, nesta modalidade, ou melhor, adolescentes. Desta forma, o trabalho torna-se completamente diferente, os anseios destes alunos, o objetivo principal do programa, a atenção diferenciada torna-se ainda mais necessária. Trabalho há seis anos com esta modalidade e neste tempo já percebi este avanço no número de adolescentes e me questiono muito porque estão lá, porque deixaram o ensino regular? Por que o processo de escolarização excluiu estes alunos fazendo com que agora optem por acelerar os estudos em uma modalidade mais compacta? Acredito que não estejam lá por quererem de fato apressar a conclusão do ensino fundamental e sim por buscarem uma escola diferente, um fazer novo, dentro do prédio onde já cursaram e não se adaptaram.
A visão desta política reparadora pelos alunos, muitas vezes é vista como mais democrática, mais justa. Na escola mesmo onde leciono, muitos alunos torcem para completar 15 anos e transferirem-se para a Eja, justificando que é bem melhor. Mais fácil? Muitos elogiam o fato de terem mais autonomia, a retenção, por exemplo, é por disciplina, a avaliação é por parecer e conceitos, os alunos tem momentos de conselho participativo, sem contar que há um empenho maior por parte dos professores de que permaneçam na escola.
Mas as dificuldades começam por aí, pois nem sempre os próprios colegas têm claro o papel da Educação de Jovens e Adultos, tornando nossas salas de aula, muitas vezes um acúmulo de adolescentes indisciplinados do ensino regular. Há muitos professores que esperam ansiosamente que seus alunos completem a idade para serem convidados a freqüentar o noturno. Com a implementação da Eja, pretende-se “limpar” o ensino regular, permanecendo lá só os alunos “bonzinhos”, os “maus” são aconselhados a tentarem a Eja.
Aí, dar conta no mesmo espaço destes adolescentes, dos adultos e dos bem mais adultos, fica bem complicado, acontecendo algumas vezes, de os mais velhos acabarem sentindo-se excluídos e desistindo. Por isso que pensar neste tempo e espaço da educação destes jovens, pensar numa alfabetização crítica, numa educação de “empoderamento” social, me desafia e instiga.

domingo, 6 de setembro de 2009

2009/2 ... Mais um semestre de construções

Iniciamos mais alguns passos guiados para uma estrada que sempre nos dá mais alternativas na busca da excelência de nosso trabalho como educadoras. O PEAD não é apenas um curso de estudo, de reflexões. A cada novo semestre, novas ações são incorporadas em nossas salas de aula. As interdisciplinas de EJA, Didática, Linguagem, Libras e Seminário (Trabalho com PAs) iniciaram trazendo nosso cotidiano de sala de aula. A sistematização do ensinar sempre ronda nossos planejamentos, assim como a construção e expressão de várias formas de linguagem, nossa comunicação com o outro, que agora requer também a comunicação que contemple a necessidade dos não ouvintes. Agregar tudo isso a um plano que continue transformando nosso currículo sob a forma de grandes ou pequenos projetos de aprendizagem, conduzidos por assuntos que verdadeiramente nos interessem, nos façam refletir, pesquisar, desconstruir antigas certezas. Práticas efetivas se pensarmos em sujeitos que estão retomando sua escolarização, que de uma certa forma, são vítimas de uma exclusão ao processo que tinham direito, agora buscam uma reparação. Chegam em nossas salas de aula para uma modalidade que perceba estas diferenças, a EJA não pode seguir modelos pré-estabelecidos. A diversidade, os objetivos e a finalidade do que será construído neste espaço e tempo deve ser efetivo, significativo e buscar uma relação de parceria entre os envolvidos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

?? Índio ??





A interdisciplina de Questões Étnico raciais, com certeza tem mexido muito com minhas certezas, desconstruindo preconceitos que eu nem imaginava ter. Não me via como uma pessoa preconceituosa, que considerasse outros grupos étnicos inferiores. Então porque como professora não trabalhava essa diversidade com meus alunos? Porque somente citava, muitas vezes com o auxílio do livro didático (pobre), os grupos que formaram o povo brasileiro? Pura falta de conhecimento. Preocupada com a aprendizagem, com a construção da leitura e escrita (minha grande paixão), com momentos lúdicos, deixava de lado esse rico assunto. Foi provado então, para mim, que para respeitar é preciso conhecer. A interdisciplina me conduziu a outros saberes, fui desafiada a pensar sobre esse outro, sobre a constituição do povo brasileiro. Fui atrás, e me surpreendi mais ainda vendo quanta coisa estava ali, tão perto de mim, colegas que já trabalham essa visão política e histórica da formação da atual sociedade, material empoeirando nas estantes da biblioteca, porque agora percebi o esforço público que está sendo feito para reparar anos de injustiça, quanto ao conhecimento nas escolas sobre esse assunto. O MEC, envia sistematicamente material de apoio sobre essa diversidade cultural, seja através de mídia como os DVDs do TV Escola, seja livros para os professores, kit como A Cor da Cultura, literatura infantil e juvenil sobre mitos, contos, vivências da cultura afro e indígena. E também livros didáticos que abordam o tema de uma maneira crítica, valorizando a diversidade. Este foi um dos elementos que procurei observar na escolha no PNLD (Plano Nacional do Livro Didático), que estamos realizando nesta época nas escolas. Realizei já algumas práticas, algumas exigidas pela interdisciplina, outras por motivação própria sobre o afrodescendente, sobre a diversidade cultural. Sobre os indígenas, ainda não realizei nenhum trabalho, até porque ainda não deu tempo. Com certeza esse será um dos meus próximos temas de trabalho, pois realmente as leituras, a busca e a reflexão me trouxeram essa necessidade. Quero fazer parte desta retomada da cultura indígena, com o objetivo de valorizar o que por muitos anos foi sendo escondido e negado por medo de discriminação.
O índio hoje, é considerado um cidadão que sente orgulho de sua origem, que possui características que evidenciam sua ancestralidade. Ser índio brasileiro, não é mais uma generalidade social, mas sim uma marca importante de expressão sociocultural, impulsionando conquistas políticas, resgatando sua tradição, conquistando o que é seu de direito. Não se aceita mais que neguem seu passado, que ao longo de 500 anos foi reprimido, sua identidade foi negada, processo esse que não teve escolha, sendo obrigados a abandonarem suas terras, em nome da expansão agrícola dentro de um processo de desenvolvimento econômico. Os que sobreviviam aos duros ataques, passavam a viver iguais aos brancos, assimilando uma nova identidade social. Todos esses acontecimentos não se deram simultaneamente, sendo assim há povos que preservam integralmente sua forma de vida, pois só tiveram esse contato com colonizadores mais recentemente.
A riqueza da cultura indígena impulsiona que se valorizem cada vez mais essas contribuições para toda a sociedade, respeitando as diversidades, identificando-as e aprendendo com elas. O conhecimento dessa riqueza em termos de práticas e crenças não pode mais ficar restrita à superficialidade apresentada nos livros didáticos de um tempo atrás, os quais, só mostravam a colonização sob o olhar do colonizador e de seus interesses, que consideravam-se mais evoluídos. Reconhecer as diferentes sociedades, os povos que as constituem, suas particularidades, não se trata de impor juízos de melhor ou pior de menos ou mais importantes e sim de perceber culturas equivalentes dentro de suas particularidades. Essa é uma condição de cidadania, de direito, de interculturalidade, que pressupõe a possibilidade de coexistir e conviver dentro de um mesmo espaço, aprendendo, interagindo, pois não existe cultura estática, imóvel ou fechada, o viver é sempre dinâmico e automaticamente em modificação.
Da Declaração Universal dos Direitos dos Povos, em 4 de julho de 1976: Artigo 1, da seção I : “ Todo povo tem direito à sua existência.”, Artigo 2 da Seção I: “ todo povo tem direito ao respeito por sua identidade nacional e cultural.”
GRASSI, Avelino. Oficinas pedagógicas de direitos humanos. Petrópolis: Vozes, 1995. p 50

Usei este espaço para relatar uma construção bem pessoal, pois primeiro é preciso que o educador se sensibilize, através do conhecimento, da reflexão, para depois contagiar seus alunos, mostrando mais caminhos existentes. Este, com certeza será meu próximo passo.

A intervenção do professor desconstruindo certezas

Ao sermos apresentadas às provas do método clínico piagetiano, fomos exercitando uma intervenção individualizada, focada nas respostas dos alunos, procurando desacomodá-lo em suas certezas, para que argumentem, justifiquem suas conclusões, desenvolvendo-se. As provas consistem em testagens com material concreto de conservação de quantidades, comparação. O que quero trazer aqui, como uma construção particular que enriquecerá minha prática docente, não se trata do método clínico em si, mas sim de um momento onde o professor possa atuar de forma individual com seus alunos, com intervenções bem pontuais, onde as respostas dão origem a vários outros questionamentos, onde o olhar do professor e a escuta estarão bem direcionadas para o processo de construção de hipóteses feitas pelo aluno.
Este ano, tenho a possibilidade de trabalhar individualmente ou em grupos pequenos separadamente uma vez por semana em duas horas, com alunos de minha turma, que eu sinta a necessidade de um atendimento particular. Estes momentos tem sido mais produtivos após o estudo que tivemos do método clínico, pois pude me dar conta da importância desta escuta do professor, onde as tarefas são realizadas e o professor constantemente indaga o resultado, o caminho percorrido, onde o põe o aluno em conflito, o desafia. Por ser sozinho com o aluno a integração é muito boa, o aluno sente-se seguro de se expor só com o professor, a relação também sai fortalecida, a tranqüilidade do espaço também favorece muito. Com certeza o ambiente coletivo da sala de aula é produtivo, se socializa e se aprende muito com o outro, mas um espaço assim, individual professor e aluno falando sobre o aprender, fazendo junto, perguntando a opinião do aluno, fazendo-o pensar é muito enriquecedor.

A experiência com projetos de aprendizagem






Durante nosso planejamento diário, procuramos formas de adequar nossas práticas com um maior envolvimento dos alunos, buscando assim mais comprometimento, significação e prazer. Nem sempre é possível ou acontece. Com projetos, nos desafiamos a instigar os alunos para que demonstrem mais sua curiosidade, pensem mais a respeito do que lhes é apresentado, perguntem o porquê e o para quê, assim como o quando e o como de tudo que lhes é informado e dito como verdadeiro. Sendo assim, tornam-se mais questionadores, nos desafiando a instrumentalizá-los para que possam buscar suas respostas, fazerem suas descobertas, comprovarem suas hipóteses.
Num desses momentos, surgiu a curiosidade individual, depois coletiva de saber como se deu esse processo de invenção do escrever, como foi esse processo de querer registrar histórias, falas, fatos, recados. Como nossos antepassados inventaram esse código tão importante.
Nos organizamos então para a pesquisa, primeiramente conversamos onde poderíamos buscar essas respostas, as alternativas foram livros e na internet. Tiveram então um primeiro momento bem livre de busca, que correspondia a um final de semana. O material que veio foi socializado e complementado por mim. Não pensem que o material trazido foi de ótima qualidade e que todos trouxeram, o que veio foi impresso e talvez nem lido da internet. O importante foi não abandonar a idéia, selecionei algumas informações, lemos e apresentei o que eu trouxe, sim, o professor tem que agarrar a idéia e ir em busca da curiosidade de seus alunos.
Trouxe para complementar a coleção de livros que fala sobre as invenções da escrita, das letras, de gestos, de símbolos, do lápis da Ruth Rocha. Os livros foram bastante manuseados, puderam ler a respeito das construções dos povos antigos. Organizamos momentos de apresentação dos temas. A partir das descobertas sobre o processo de construção da escrita da humanidade, criamos escritas particulares através de códigos, mensagens enigmáticas. Vivenciaram esse processo de escrita pictográfica (através de desenho) e ideográfica (através de símbolos). Foram expostas nossas descobertas através de murais, onde diariamente complementávamos com mais informações.
Este foi o primeiro assunto desenvolvido com essa turma que houve uma participação mais efetiva e ativa dos alunos, foi considerado por eles um assunto extremamente relevante e que despertou o interesse pela história dos povos antigos. Já circula entre eles bilhetes secretos com códigos criados por pares, compreendendo assim o verdadeiro sentido da escrita que é o da comunicação, nesse sentido o de uma comunicação com um receptor específico. Também puderam perceber as várias funções da escrita, de registro, de comunicação, para si, para o outro.
Alguns relatos e fotos evidenciam o envolvimento dos alunos nesta atividade que exigiu participação desde o planejamento e que deixará importantes aprendizagens.

P.S As fotos não ficaram boas, as primeiras que tirei com minha máquina digital perdi, pois ela estragou, estas fiz com o celular pelo menos para dar uma ilustrada.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Eu, eu e os outros




Eu sou Gisele Bervig Martins, tenho 31 anos, professora, aluna da Pedagogia distância da Ufrgs.
Descrever-me tendo em vista minhas características físicas, após observar-me no espelho durante a aula presencial, não foi tarefa fácil. É estranho descrever algo tão próximo, sem acabar reclamando de alguma coisa. Acaba vindo à tona dúvidas de como será que essa imagem é interpretada pelos outros, como passo o que sou através de minha imagem. Sabemos que essa imagem, esse corpo é o que faz contato com o mundo externo, é o que atrai e também afasta as pessoas. Hoje ainda mais, quando corpo/ beleza são aspectos tão valorizados.
É certo que imagens alegres nos atraem instintivamente, as tristes nos causam certo mal estar, enquanto que as agressivas nos põe numa posição de defesa ou de ataque. Por isso uma imagem serena, tranqüila e feliz é o que mais desejo passar. Nem sempre consigo, pois as batalhas do cotidiano criam uma armadura para dar conta de todos nossos papéis. Uma coisa que procuro preservar é o meu sorriso, às vezes singelo, mas na maioria das vezes escancarado. Rio, sorrio, muito, de mim mesma e de situações até não tão agradáveis. Esse sorriso sai da boca, que talvez seja a parte mais marcante do meu rosto. Apesar de ter um rosto pequeno, que tem em seu contorno um cabelo ralo e fino tenho traços bem expressivos, olhos, boca e até nariz grandes, dentro deste contexto. Herdei essas características de meu pai, descendente de “brasileiro”. Esse brasileiro, gostaria de explicar, era falado pela família de minha mãe, de descendência alemã, e isso na minha infância me causava estranheza, pois todos éramos brasileiros. Quando questionava me explicavam que ele seria descendente de uma mistura entre índio, negro, português e espanhol, não sabiam ao certo. Achava esquisito, pois na escola esse “conceito” não se encaixava, estudei lá pela terceira série, o que eram mulatos, mamelucos e cafuzos, esse último me parecia muito parecido com confuso, torcia para não pertencer a essa “raça”. Sim, pelas palavras de minha avó, brasileiro era raça. Apesar de ter esses traços, sou branca como minha mãe, só não herdei os olhos verdes. O cabelo mais escuro contrastava demais com minha pelo, então fui clareando aos poucos, me tornando loira. Hoje quase ninguém acredita que meus cabelos são escuros.
Dentro deste histórico, que citei acima, convivi com conceitos bem preconceituosos, muitas vezes ouvi pequenas discussões com esse tema, ouvia minha avó falar da superioridade dos imigrantes alemães, que foram eles que trabalharam duro para construir o Rio Grande do Sul, por exemplo. Até quando víamos uma casa mais organizada, com jardim bonito sempre ouvia que deveria ser de alemão. Aos poucos a família foi aumentando e vieram mais “brasileiros”, italianos, afro descendentes, diminuindo esse tipo de comentário.
À medida que cresci, com mais maturidade fui conseguindo identificar características de comportamento dos meus pais, em mim. Geralmente na adolescência, negamos isso, mas o fato é que quanto mais crescemos mais vemos que somos parecidos com nossos pais. “A fruta não cai longe do pé”, realmente, apesar de outras vivências, outras oportunidades, formação, reconheço em minhas atitudes, algumas crenças a forte presença do que fui ensinada, jeitos e gostos pessoais. Penso que sou uma mistura, de ambas as partes, em quantidades proporcionais, que acabam se complementando. Se realmente são os opostos que se atraem, e nos caso dos meus pais vejo um pouco disso, é nos filhos que essa mistura tende a dar mais certo. Será? Muito falante (como minha mãe), adoro sair (como meu pai), dou um boi para não entrar numa briga... (como meu pai), sou muito preocupada com os que amo (como minha mãe), acredito que vencemos através do trabalho (como meu pai), penso que o conhecimento é a melhor recompensa que possa ter ( como minha mãe), leio tudo que cai nas minhas mãos (como minha mãe).
Me constituo assim, professora, esposa, mãe, filha, irmã, amiga, protetora, curiosa e empenhada, às vezes bem preguiçosa (pra compensar a jornada dura) que procura fazer um trabalho com os alunos baseado neste autoconhecimento, nessa percepção de importância do nosso passado, de nossa base, dessa socialização com o outro, aprendendo e aceitando os costumes de cada um.

O CLUBE DO IMPERADOR

????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????

A indicação do filme foi excelente, pois ele sai do óbvio ao colocar um professor em vários conflitos morais. O que é certo e errado quando se trata de educar? Devemos pensar a curto ou a longo prazo? Muitas de nossas ações com nossos alunos, justificamos que com o passar do tempo, com o amadurecimento irão nos dar razão, que uma negativa hoje, uma frustração pode significar uma grande aprendizagem. No caso do filme, o professor recebe um aluno problema, indisciplinado, desinteressado e um tanto quanto abandonado pelo pai. Ao perceber que o menino não interessa-se pelos estudos mesmo sendo muito capaz, o professor o expõe a uma situação que ele mesmo possa sentir-se inferior por não esforçar-se,desafiado. Esta situação desencadeia uma reação positiva do menino que demonstra ser muito competitivo. A partir daí inicia um processo de melhora que faz o professor acreditar que está dando passos importantes para sua formação, incentivado pelos primeiros resultados o professor toma uma atitude errada, mas justificável e carregada de boas intenções. Aumenta a nota do aluno, classificando-o para uma disputa importante na instituição, em troca faz com que outro aluno saia prejudicado, tirando-lhe o direito conquistado, também com estudo, de ir adiante na competição. É mais ou menos como decidir quem continua vivendo, quem merece mais? O mocinho ou o bandido regenerado? O professor não conseguiu avaliar a prova sem levar em conta o processo como um todo e isso é altamente positivo, no entanto vê-se diante de um conflito,promover o "mau aluno" até então, acarreta na desclassificação do "bom aluno". Nesse caso o professor pensa ser mais valoroso não interromper o processo ascendente do "mau aluno".
Quantas de nós faríamos a mesma coisa, pois os "fins justificam os meios"? No caso do filme o professor irá amargar uma decisão errada pois não foi bem sucedida, o menino não continuou esse processo iniciado pensado pelo professor. Daí o arrependimento. E se o desfecho fosse melhor, se o menino tivesse sido a partir daí um brilhante aluno, um grande homem, estaria justificado a troca das notas? O pecado não seria tão grande?
O filme é duro quando nos coloca na realidade que nem todo final é feliz, e que em muitas vezes nossas apostas não vencem, a escola não consegue sozinha dar conta do caráter de alguém. Há sim toda uma bagagem familiar, social, que educa, que forma, que corrompe.E nós lá... tomando decisões como a desse educador, que por vezes não envolvem um terceiro elemento diretamente. Mas quantas aprovações e reprovações assinadas por nós vieram carregadas destes critérios "justos"? Como avaliamos? O professor apostando no bem, no resgate de um indivíduo, estava certo?
Na minha opinião... Sim! Ele tomou a decisão mais acertada, ele acreditou, deu continuidade a um sonho que estava vendo tomar forma, na maneira como ele concebia a educação, aquele menino estava se encontrando, seu potencial estava sendo descoberto, era uma troca "bondosa". Mesmo sendo importante para o outro menino aquela conquista, naquele momento era necessária.
O filme me fez pensar muito, no certo e no errado, naquela mãe que acaba dando atenção maior a um dos filhos e justifica que é por necessidade, na professora que dedica mais tempo ao aluno mais carente. São tantas escolhas, é tão difícil a tomada de posição, de um lado o coração e do outro muitas vezes a razão. Na nossa profissão, esse olhar observador sensível nos desacomoda, nos dói, mas nos faz cada vez mais humanas. É o preço que pagamos por trabalhar com gente! Que bom!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A inclusão de PNEE presentes em meu trabalho como educadora

Sou professora há 13 anos, durante este tempo passei por várias séries, com crianças bem pequenas e até adultos. Aprendi muito com todos eles, e tenho certeza que não sou a mesma. Foram nas salas de aula, muitas de alfabetização, que enfrentei grandes desafios, as dificuldades da educação como um todo, que perpassam os aspectos sócio-econômicos e chegam até nosso trabalho diário. Mas, sem dúvida o que mais inquieta dentro deste espaço e tempo são as dificuldades no processo de aprender. Não foram poucos os casos que me tiraram o sono, por não compreender o que se passava dentro daquelas cabecinhas. Me via, muitas vezes, mais ansiosa e preocupada do que os próprios pais, demorei para encarar com mais naturalidade o fato das famílias aceitarem tão bem o não aprender. Envolvidos na guerra do sustento sobra pouco tempo para a educação de seus filhos. Tantas e tantas vezes senti falta de um laudo, algo bem sistematizado que me explicasse, como uma fórmula matemática o que faltava para que as ligações fossem feitas, para que houvesse significado nas atividades que fazíamos e como num passe de mágica ele pudesse então se alfabetizar. Nunca tive alunos com necessidades especiais visíveis, aquelas que comovem, chamam a atenção ou até apavoram. Também não tinha preconceito, mas sempre pensei que as coisas não acontecem por acaso, e que se recebesse um aluno com um problema mais sério deveria estar preparada, primeiro para não me abalar, não me frustrar, saber lidar com um tempo diferente e segundo para ser útil, não só como ser humano, mas principalmente como professora.

E o ano de 2009 chegou, além de minha turma de 4º ano e um projeto de turno integral, à noite estou trabalhando com Arte para alunos de Eja (Etapas Finais), de 15 a 55 anos. São 4 turmas, bem numerosas por enquanto e bem difíceis, por agregar casos de alunos com uma bagagem grande de frustrações, dificuldades, crimes, drogas e toda espécie de problemas pertinentes à uma área bem carente invadida em um enorme bairro de uma grande cidade. Pois lá, em uma etapa 7 (7ª série), encontrei o meu caso mais notório de inclusão. Um rapaz de 19 anos, sorridente, falante que apresenta deficiência visual. O primeiro dia na escola, com sua chegada foi de adaptação, precisamos acomodar a turma no andar debaixo. As colegas que foram entrando durante a semana, vinham com notícias que se tratava de um rapaz bem interessado, que se expressava bem, trabalha com o braile, e que estava sem enxergar há 3 anos, devido uma doença grave e rara que destruiu seu nervo óptico. Eu fui entrar na turma na sexta feira, após o intervalo, ou seja só restava a ele ser apresentado para a disciplina de Artes. Entrei, me apresentei, expliquei o programa, fizemos combinações, pedi que se apresentassem, tudo de forma natural. Quando iniciei o trabalho do dia, que se tratava de uma atividade abstrata ao som de uma música, para posterior troca com colegas, ele, sentado à minha frente, foi logo explicando: “sou deficiente visual, como vou fazer?”. Mesmo sabendo que enfrentaria essa situação e já tendo pensado que tentaria auxiliá-lo fiquei um pouco desconcertada. Iniciamos um diálogo bem descontraído, onde pude ir contextualizando o que estávamos fazendo, passando por uma conversa ente um pequeno grupo que estava mais próximo a mim e a ele, sem tocar no assunto da necessidade que ele apresentava. A cada aula, conversamos mais um pouco, falo muito com ele sobre Arte, ele demonstra muita curiosidade, tem muita sensibilidade e aos poucos vai contando como é tornar-se portador de uma necessidade especial, bem em meio à adolescência.

Por enquanto, sei muito pouco de como incluí-lo mais nas aulas, já trouxe músicas sugeridas por ele, sempre pergunto sua opinião. Tenho hora agendada com um professor deficiente visual, coordenador de uma associação que ele freqüenta, mas o próprio já me antecipou que não possui material específico que irá me instrumentalizar. O que ele fará é me dar uma noção de como usar a linguagem, que expressões, como conduzir o tema de forma falada. Estou bastante ansiosa para poder ser mais útil, na aprendizagem do E., penso que minhas falas podem contribuir com sua integração, motivação na escola. Por enquanto, é só...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Interdisciplinas 2009/1

Neste semestre iremos trabalhar com as Interdisciplinas: Questões Étnico Raciais, Desenvolvimento da aprendizagem sob o enfoque da Psicologia II, Filosofia da Educação, Educação de pessoas com necessidades especiais e o Seminário Integrador que estará além de acompanhar todas as Interdisciplinas, encaminhando o trabalho com os Projetos de Aprendizagem.Dentro deste contexto farei reflexões e relações com meu trabalho de professora. Este ano, estarei trabalhando com uma turma de 4º ano, um projeto ligado ao Mais Educação (programa federal de turno integral) e com Artes para turmas de Eja. Muitas atividades, que requerem organização para dar conta de todas elas. Neste espaço e tempo teoria e prática caminham juntos, visto que o Pead nos dá essa possibilidade.
A Psicologia como forma de estudo para compreender os processos de como se ensina e como se aprende realmente me desperta bastante interesse. A fala da professora Tânia, na aula presencial (08/04/2009), nos salientou muito isso; que para o professor não basta saber, é preciso saber como se sabe, ou seja, como se aprende, como se ensina.
A Filosofia, torna-se um campo bem importante de estudo até pelo caráter histórico que traz da evolução do pensamento humano. A interdisciplina está possibilitando e nos desafiando a ter uma escrita dissertativa, mais lógica e argumentativa.
Educação de pessoas com necessidades especiais, traz questões bem amplas da inclusão destes sujeitos no espaço escolar, desde a questão do direito, da igualdade, o trabalho do professor como instrumento de desenvolvimento, de acordo com suas especificidades. Torna-se imprescindível o diálogo e o debate como forma de construirmos possibilidades, para que a educação em nossas escolas se dê o mais verdadeiramente possível.
As Questões étnico raciais permeiam não só nossa prática profissional,mas toda nossa vida enquanto cidadãos de uma sociedade tão plural como a nossa. Somos um povo constituído por diferenças, misturas de várias raças compõe o brasileiro, e hoje dentro desse território tão grande vemos separações e exclusões de todas as formas, de classes, de credos,de cor, de cultura. Aparentemente muito aberto, o brasileiro encobre o preconceito. Com a educação precisamos trabalhar essas questões, primeiro conhecendo, depois identificando as diferenças, sublinhando as semelhanças na questão do direito e da igualdade para que o respeito ao outro seja real.