terça-feira, 25 de maio de 2010

Ainda refletindo sobre LER e ESCREVER...

As semanas vão passando e nesta semana minha maior preocupação foi com a apresentação dos resultados das aprendizagens neste período. Por estarmos na reta final de um trimestre, faltando pouco para deixar a turma, pois já me decidi pela coordenação do projeto, por uma série de implicações, aquela questão de comprometimento com a escola. Enfim, olho desde o início de março e procuro rever os caminhos, as tentativas, os acertos, mas principalmente os resultados práticos da evolução da turma como um todo e de alguns casos bem específicos.

No início do ano é normal fazermos uma espécie de sondagem, ver em que níveis se encontram, o que mais precisam, o que mais gostam e iniciamos então um trabalho de adaptação. Posso afirmar que os alunos refletem muito do estilo de seus professores e percebo muitas manias minhas já sendo incorporadas em seus hábitos, sinto certo orgulho por isso.

Às vezes saímos da sala exaustas, com a sensação que conseguiram sugar nossas últimas energias, tamanho a ansiedade que muitas vezes trazem, querem muito falar, dividir experiências, serem atendidos, participarem, querem ajudar e serem ajudados e nós ali, mediando tudo isso.

Esse espaço de relações, o vínculo, o hábito saudável na rotina também merecem ser analisados e avaliados, dentro disso. Iniciei meus apontamentos já, para o conselho de classe, pensando no que a turma como um todo cresceu. São disciplinados, no sentido de que seguem e cobram a rotina que criamos, as filas, a descrição da pauta do dia, o calendário, a oração, o trabalho em dupla, em grupo ou individual, a espera de ir ao banheiro ou tomar água só quando retorna o colega, para não estarem muitos ao mesmo tempo na rua, a organização da sala, o cuidado com a separação do lixo, os relatos para os colegas, a organização das atividades, o uso do caderno, a opção da letra, a leitura, as correções, o “pronto socorro” de palavras, e muitas outras combinações sugeridas por mim, por eles ou adaptadas.

A valorização da escrita e da leitura é algo também que salta aos olhos, sabem que escrevem com sentido, não existe a cópia por si só. Nunca copiamos por copiar e isso pra eles é básico. Quando dou um recado como um lembrete de alguma tarefa, não obrigo a copiar, mostro que tenho meus apontamentos, que uso agenda, anoto no meu caderno de chamada e quando é alguma coisa muito urgente até na mão anoto. Já viram isso e imitam. Escrevem naturalmente e vão percebendo que o modo como escrevemos depende do tipo de escrita. Quando escrevemos para alguém necessita que sejamos claros, pois o leitor precisa de dados para compreender, já para lembrar-me pode ser códigos, resumos escritas bem particulares.

Neste contexto de trabalho há crianças que evoluíram muito, porém há outros que não estão completamente alfabetizados apesar do ciclo de dois anos de alfabetização pelo qual passaram. Percebo que a muitos não foram oferecidas escritas e leituras contextualizadas, fixando-se muito em palavras. Aí em uma atividade de cruzadinha, ditado de palavras, escrita espontânea de palavras tem uma boa estrutura, já quando se pede que expressem seu pensamento escrevendo as palavras somem, perdem letras, ganham outras, juntam-se e separam-se incorretamente. A estes o trabalho se volta mais para a prática de uma escrita com sentido, a leitura como um recurso que possibilite a análise de sua própria escrita e a reescrita quando necessário. E principalmente que sintam-se encorajados a não desistir, a perceber que dentro de um contexto significativo a idéia do que escrevem é muito mais importante que possíveis rocas de letras, e que estas serão incorporadas á medida que se lê e que se escreve.

Se reduzirmos a construção da escrita à formação de palavras, analisando-as letra a letra focamos na incorporação do código e não na escrita como função social como afirma Ferreiro (1992, p.72,73) “Reduzir a língua escrita a um código de transcrição de sons e formas visuais reduz sua aprendizagem a aprendizagem de um código.” E “[...] Introduzir a língua escrita quer dizer, ao menos o seguinte: poder interagir com a língua escrita para copiar formas, para saber o que diz, para julgar, para descobrir, para inventar.”

E com as palavras de Moll (1997, p.188) “A língua escrita é um sistema de representações histórico-culturais e, como tal, só tem sentido como aprendizagem se for revestida desse caráter.”

Desafiar esse aluno, resgatar esse caminho, que talvez na primeira vez em que foi trilhado, acabou se perdendo, está sendo meu objetivo dentro da proposta de ler e escrever o mundo e para o mundo. Freire (1987, p.22), nos mostra essa lição: “A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra escrita e a leitura desta implica na continuidade da leitura daquele.”

Ler e escrever de fato os fatos vividos, as reflexões feitas, como forma de registro, para fins de memória, de informação, de expressão, de entretenimento, tem sido nosso fazer diário.

Dentro do meu plano semanal não contemplei a avaliação que pensei em realizar com os alunos, resolvi organizá-la de forma que se torne mais reflexiva que seja possível a partir dela identificar as percepções dos alunos em relação ao que aprenderam, à importância do processo de troca e socialização, dos métodos utilizados, assim como do objeto do saber em foco que é o escrever e ler.


Referências:


FERREIRO, Emília. Com todas as letras. São Paulo. Cortez. 1992.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. Cortez, 1987.

MOLL, Jaqueline. Alfabetização Possível. Porto Alegre. Mediação. 1997.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Leitura e escrita além do processo de escolarização

Mais uma vez voltei a rever meu plano, analisar os fundamentos que baseiam a minha prática em sala de aula, independente de estar em estágio ou não. Essa é uma volta necessária e constante, procuro ter momentos sistemáticos de retorno, folhear meus planos de aula de início de ano e até de anos anteriores (aí a importância do registro) não para meras comparações vazias e sim para avaliar minhas ações.

Minhas ações planejadas estão atingindo meus objetivos de proporcionar aos alunos situações reais de leitura e escrita, na forma de um trabalho de letramento que contemple a necessidade da comunicação escrita. Foi aí que vi que extrapolamos as expectativas, pelo menos de exercício desta comunicação, quando ao surgir outras oportunidades reais, para solucionar problemas nossos nos utilizamos desta ferramenta de forma significativa e principalmente natural. Seja na forma de recados carinhosos às mães, pesquisa e registro de receitas para constar no caderninho de receitas presente, cartazes pela escola alertando para a separação do lixo, cópia da música para ensaio ( ao ensaiarmos a primeira vez sem a escrita da música, foram unânimes em dizer que era importante tê-la escrita para decorarem melhor), na redação de um bilhete alertando os pais para a infestação de piolhos que havia sido objeto de reclamação de uma mãe, que ao enviar um bilhete repassei o conteúdo aos alunos e juntos realizamos a escrita para ser enviado às casas. Isso reforça os objetivos que encontramos nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa:



“[...] utilizar a linguagem na escrita e produção de textos orais e na leitura e produção de textos escritos de modo a atender a múltiplas demandas sociais, responder a diferentes propósitos comunicativos e expressivos e considerar as diferentes condições de produção do discurso.” (PCN, p.32)



Também a possibilidade de entrevista conferiu um grau a mais em meus objetivos, pois quando surgiu a entrevista como um tipo de texto presente no portador jornal, que era inicialmente minha maior ferramenta, pensava mais sob a forma de exercício escrito. Ao trabalharmos com a primeira entrevista criada para um sujeito indeterminado, depois perguntas específicas para profissionais da escola e por último a entrevista com a mãe, foi possível ver tudo que estes trabalhos proporcionaram em termos de comunicação oral e escrita, interação com o outro e a própria experiência de aprender com os relatos colhidos.

Vemos que o trabalho com variedade de textos informativos, literários, de instrução, de propaganda e outros conferem muito mais que uma estratégia de leitura e escrita com fim em si mesmo, mas sim uma forma crítica de ler o entorno e poder utilizar-se da escrita para escrever suas interpretações, de conteúdo social, político, e também afetivo (visto a quantidade de cartinhas que recebemos e muitas vezes não valorizamos como um passo importante de significação para escrita).



“Portanto, quando se fala de tomar gêneros, e não meramente os textos ou os tipos de texto, como objeto de ensino, fala-se de constituir um sujeito capaz de atividades de linguagem, as quais envolvem tanto capacidades lingüísticas ou lingüísticas discursivas, como capacidades propriamente discursivas, relacionadas à apreciação valorativa da situação comunicativa ou contexto, como também, capacidades de ação em contexto. Fala-se de um outro modo de se produzir e de se compreender/ler textos em sala de aula.” (Rojo, 2006)



Esta fala de Rojo presente na coletânea de textos reunidos pelo MEC que tratam sobre as práticas de leitura e escrita vem reforçar minha ação em sala de aula. Confirmando a importância não só da estrutura dos gêneros trabalhados o enfoque passado por cada um destes meios de construção de conhecimentos como para além do processo de escolarização.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Avaliando

Esta foi uma semana que por ter muitas coisas para dar conta a sensação é de que o tempo foi bastante curto. Ao mesmo tempo em que precisávamos realizar os trabalhos alusivos ao dia das mães (algo que nem sempre enfoco tanto, mas que nessa turma teve uma enorme aceitação e envolvimento o que me fez dar mais espaço a essa comemoração) precisava seguir com meus objetivos iniciais que são os gêneros textuais, a questão da importância do ler e escrever, havia já pensado em logo iniciar os questionamentos com a turma sobre a importância desse processo e mais ainda instrumentos de avaliação para serem aplicados. E é óbvio que esses instrumentos interferem no processo, no sentido que retomo logo o que observo não ter ficado claro e isso afeta todo o plano semanal.

A avaliação tem sido uma reflexão diária e “noturna” passo muito tempo entre correções e planejamentos de intervenções para avaliar verdadeiramente não o aluno, como um produto final, e sim o caminho percorrido e minha postura como facilitadora dessa aprendizagem. Procuro manter um olhar atento durante a correção, analisando a resposta como um todo, vendo a hipótese que foi construída. Mas não é fácil, é bem angustiante ler, muitas vezes compreender qual foi o caminho que ele tomou mesmo tendo o resultado final incorreto e durante a aula voltar ao ponto, intervir de uma outra forma, mas continuar vendo uma certa dúvida, ainda não a certeza daquela apropriação.

Muitas vezes quando questionado, o aluno logo responde que já entendeu, pois parece incômodo ficar muito tempo numa situação de não compreender, de precisar de auxílio. Fico criando uma série de artifícios para que se motive, que o erro não tire o ânimo de seguir adiante.

Hoje mesmo iniciei uma conversa sobre nossas aprendizagens, sobre tudo que eles já conseguiram, que tudo foi um processo, que ninguém acordou num belo dia e saiu falando, ou andando, dos tombos do andar de bicicleta, e assim fui dizendo o quanto é bom depois olharmos pra trás e ver que teve esses tombos que valoriza nossa conquista. Percebi que entenderam meu recado, ficaram com rostinhos mais aliviados mesmo após alguns terem recebido avaliações que praticamente não conseguiram atingir o objetivo. Expliquei que a avaliação serve para eu ver o que já entenderam bem e o que teremos que trabalhar um pouco mais. Afirmei que todos vão aprender, que há tempos diferentes, que alguns aprendem mais rápido determinadas coisas, enquanto outros tem mais facilidade em outras.

Voltei a alguns textos que li recentemente, um deles ratificou as idéias que me acompanharam durante esta semana.



A avaliação não deve ser uma sanção externa do professor ou da sociedade em relação ao aluno. Para que a avaliação seja formativa e realmente eduque o aluno, deve conduzir a uma consciência clara de si mesmo perante a aprendizagem. É necessário que o aluno - com a ajuda do professor ao avaliá-lo- identifique suas próprias dificuldades e seus recursos. [...] A imagem de si mesmo, no papel de aluno, é determinante do êxito e do fracasso em tarefas escolares, já que fundamenta a motivação intrínseca e o sentido de esforço, imprescindíveis para aprender. Curto (2000. p. 215)



Penso que notas cumprem um papel motivador para os alunos que atingem os números altos e que vez ou outra não conseguem uma média razoável, aos alunos em processo são extremamente prejudiciais, é muito sofrido receber sempre as últimas colocações. Porém encontro-me num sistema que trabalha dessa forma, e devo encontrar um ponto de equilíbrio entre essa prática que por enquanto me é exigida de uma maneira menos prejudicial, mais justa, ou seja, menos sofrida para os envolvidos. E claro levantar essas questões para se pensar coletivamente em outras alternativas, em se propor a um outro olhar, a um outro tipo de registro.

Considero que tudo na vida, e isso se refere ao profissional também, é uma questão de espaço e tempo, que de acordo com alguns caminhos trilhados a experiência se torna diferente, os ponto de vista também. Digo isso, pois já trabalho nessa escola há alguns anos e acompanhei essa migração de parecer à nota, confesso que mesmo votando por parecer descritivo para compor nosso regimento, fui pouco convicta, não sustentei minha opinião em relatos práticos e teorias consistentes. Faltou-me talvez coragem e conhecimento para expor de fato o que acredito ser mais coerente. Também pesou o fato de que o ciclo de alfabetização (1º e 2º ano) trabalham com parecer, e eu por muito tempo trabalhei com estas turmas, assim não me apropriei tanto do problema. Precisei estar esse ano, nesse espaço como professora /estagiária com uma turma de 3º ano para incomodar-me tanto. Já dividi essa inquietação com a supervisão da escola, que por estar chegando agora à escola, isentou-se um pouco, mas além de concordar comigo, comprometeu-se em abordar em nossas reuniões pedagógicas esse ponto e aí é que terei de posicionar-me ao que considero uma postura mais democrática, menos classificatória.

Nas próximas semanas continuarei a aplicação de trabalhos, as leituras, as intervenções individuais, meus apontamentos quanto às observações que faço, pois considero-os imprescindíveis para conhecer o que compreende o processo que está sendo construído por cada um de meus alunos, paralelo a isso somando pontos, atribuindo pesos da melhor maneira possível.



Referências:

CURTO. Lluís Maruny, MORILLO. Maribel Ministral, Teixidó. Manuel Miralles. Como as crianças aprendem e como o professor pode ensiná-las a escrever e a ler. Porto Alegre. Artmed. 2000