domingo, 29 de novembro de 2009

Projeto Eja

Aproveito este espaço para dividir mais uma conquista que tive enquanto professora de EJA. Neste final de ano recebemos algumas orientações referentes a uma nova perspectiva de espaço e tempo no trabalho com EJA na rede municipal em que trabalho. Muitas inquietações, dúvidas e desafios. Desacomodada e instigada, me propus a pegar esse caminho e trilhar com algumas possibilidades, para isso iniciei a estrutura, junto com minhas colegas, de um projeto que contemple algumas especificidades do nosso público numa visão que privilegie a pesquisa no trabalho com projetos de aprendizagem.A princípio este projeto já teve aprovação da mantenedora, precisamos articulá-lo, estudar muito, nos preparando para essa prática nova. Veremos!!!!
Então posto aqui, um esboço dessa construção:

PROJETO INCENTIVO À LEITURA, PESQUISA E TECNOLOGIAS
EJA/2010

Justificativa:
Temos a oportunidade de neste ano lançar um olhar mais particular para a modalidade EJA que, sem dúvida, necessita de um trabalho que identifique suas potencialidades e as amplie.
O trabalho com jovens e adultos deve contemplar inicialmente como diria Freire, uma leitura de mundo. Sendo ele produto de uma sociedade excludente, é dever da escola resgatar sua cidadania promovendo aprendizagens que efetivamente o incluam.
Desse modo, a Eja é simplesmente Educação: processo de formação do ser humano para viabilizar e executar a transformação em si mesmo e no mundo, criando e recriando valores e conceitos, buscando sentido e significado para tudo que se faz. AGUIAR (2001)

O projeto Incentivo à leitura, pesquisa e tecnologias alicerça-se na fundamentação de promover a motivação para a descoberta, através da pesquisa, de estudo, de socialização destes saberes construídos.

Objetivos:
• Ter um espaço novo que foque na pesquisa como forma de construção coletiva de ensino-aprendizagem.
• Realizar um trabalho que leve os alunos a se responsabilizarem e se autorizarem mais em seu processo de ensino-aprendizagem.
• Aguçar a curiosidade, a descoberta, a socialização dos saberes compreendendo o caráter mutável e participativo do fazer pedagógico, contrariando o processo de escolarização ultrapassado a que muitos têm como referência.
• Promover maior integração entre os alunos ao buscarem alternativas, selecionarem ferramentas em seus projetos de pesquisa.
• Integrar mais o grupo de professores, buscando coletivamente estratégias de ensino-aprendizagem independente das áreas em que atuam.
• .Resgatar o trabalho em grupo, valorizando as parcerias entre professores e alunos, de forma que sintam a integração neste trabalho de pesquisa.


Sistematização:
Dentro da proposta de trabalharmos por áreas de conhecimento e entre essas áreas haver uma integração por grandes eixos temáticos, as turmas uma vez por semana terão um trabalho mais voltado para a pesquisa, ocupando espaços que propiciem esse desenvolvimento (laboratório de informática, laboratório de ciências e biblioteca escolar). Os alunos serão auxiliados por professores que estarão engajados, não só na proposta da pesquisa, como também no trabalho nas salas de aula. Cada turma será dividida em três grupos que se revezarão nos espaços sob a tutoria dos professores. Cada grupo será composto por 1/3 da turma.
A proposta inicial será o levantamento de questionamentos feitos por cada turma, onde os alunos serão instigados a levantarem questões, curiosidades, problemáticas que avaliam serem necessárias para o seu desenvolvimento. A partir das perguntas surgidas faz-se a seleção e divisão por assuntos de aproximação formando assim grupos de pesquisa com temáticas relacionadas. Será feito então por grupos um planejamento referenciando as dúvidas, as certezas, os encaminhamentos, as estratégias, mapas dos conceitos envolvidos, plano de ação. A dinâmica dos trabalhos contará sempre com o auxílio direto dos professores das áreas e dos professores responsáveis pelos espaços. Como culminância do projeto haverá apresentação de todos os temas trabalhados para todos os grupos, com exibição dos dados encontrados, relatos, resultados de pesquisas, dividindo assim com os demais grupos o estudo desenvolvido. Os registros durante todo o processo serão necessários para encaminhamento, comprovação e avaliação tanto do resultado encontrado, como do caminho articulado.
Esta é uma prática que nos desafia e ao mesmo tempo nos encanta pela possibilidade de ter e dar mais autonomia na construção do saber para o aluno. Desta forma, nós professores e equipe diretiva, assim como a Secretaria de Educação estamos desconstruindo algumas práticas em prol de outras em que acreditamos. Sabemos das dificuldades e principalmente dos ajustes que serão necessários, porém ao incorporarmos estas mudanças estamos colocando em prática alguns de nossos sonhos e com certeza resignificando o espaço escolar com positivos avanços.
Este é um pequeno esboço de um planejamento que será construído coletivamente com todos nós professores em nossos espaços de formação e planejamento, porém acreditamos que a proposta inicial de otimização e sistematização dos espaços de laboratório de informática, ciências e biblioteca já trará aos nossos alunos da EJA um novo olhar sobre a importância dos estudos e ao nosso grupo de professores o desafio de por em prática efetivamente espaços pouco utilizados, assim como, criar alternativas de um trabalho que venha ao encontro dos nossos alunos, tornando-os mais preparados para os saberes da vida. Para finalizar Morin “Creio que esta reforma requer um pensamento que religue, um pensamento complexo, pois não se pode reformar o sistema de educação sem, previamente, ter reformado os espíritos e vice-versa.”


domingo, 8 de novembro de 2009

“A Eja tem agora objetivos maiores que a alfabetização” Sobre Reportagem lida em Nova Escola, julho de 2009.


Na revista Nova Escola de junho de 2009, li a entrevista de Timothy Ireland, um especialista inglês representante da Unesco que fala sobre Eja. A seguir algumas reflexões minha as partir de alguns trechos lidos.
Sobre o caráter compensatório da Eja, Timothy cita que a Unesco trabalha em cima de quatro pilares que são o aprender a ser, o aprender a viver junto, o aprender a fazer e o aprender a conhecer, numa perspectiva de aprendizagem contínua. Essa aprendizagem contempla a individual, a profissional e a social.
Isso não é pouco, é com certeza a educação de fato, o empoderamento através do conhecimento, nosso aluno, precisa compreender o seu eu cidadão, com possibilidades, suas capacidades individuais para realização pessoal, assim como a participação que tem no grupo, seja este grupo, a família, a escola, o bairro, o país. Ele precisa perceber sua carga de direitos e deveres para com este espaço que ocupa, ele precisa tomar para si essa responsabilidade, com o contexto que o cerca. Paralelo a esta tomada de consciência, precisa exercitar o fazer, que não é antes nem depois, é contínuo e resultado de aprendizagens de informações, de interpretações da realidade. Aos poucos se percebe parte de um processo, de um núcleo social. As relações podem e devem ser debatidas nas nossas salas de aula de Eja, ao alfabetizarmos, letrarmos, incorporarmos práticas educativas que contemplem as relações, as emoções reconhecidas nestas relações, praticando novas possibilidades de convivência, de respeito. Temos com estes jovens e adultos uma grande possibilidade de abordar temas conflitantes de nosso entorno, como o da violência, que ao convidarmos nossos alunos a refletir, problematizar, se expor estamos trabalhando efetivamente para uma mudança de atitudes, precisamos crer que é assim que podem acontecer.

A rotina do planejamento


Há bastante tempo ouvi de uma palestrante que a rotina é algo extremamente saudável em nossas salas de aula. Sua fala nos convencia que rotina não é algo enfadonho, e sim uma sistematização importante para dar conta do ensinar e do aprender. Em nossas comunidades muitas crianças sentem falta de uma organização onde possam se sentir seguras. No ano passado ao trabalhar com 1º ano, procurei estabelecer uma rotina para com as crianças, assim como uma rotina “secreta” para meus planejamentos, que pouco a pouco as crianças também foram a percebendo. Na interdisciplina de Linguagem exercitamos uma prática de planejamento muito parecida com que desenvolvi. Diariamente meus alunos chegavam à sala, organizavam-se nos grupos, distribuíamos os crachás, com técnicas diferentes, por sorteio, por grupos, aleatórios, cada um escolhendo um colega, por cor de roupa, e assim por diante. Depois preenchíamos o calendário, com o desenho do dia, o número, depois a chamada, onde se registrava o número de meninos e meninas, quantos grupos seriam formados. Distribuição do material, roda da conversa (às vezes orientada, outras livre, momento para combinações, recados) Iniciávamos então as atividades do dia, sempre após eles terem uma visão de como seria a tarde. Então se sentiam mais seguros, não pediam para fazer outra atividade fora da combinada, não ficavam ansiosos para saber o que iriam fazer, esse era o momento de sugestões que procurava acomodar. Todos os dias, líamos, escreviam, brincávamos, cantávamos ou pelo menos ouvíamos uma música. Quase que diariamente, trabalhávamos com jogos, com algum material de modelagem de sucata, massinha, papel amassado, algum tipo de arte plástica, pracinha, e outras atividades. Tínhamos também hábitos na sala de organização do material, movimentação nos espaços da sala, acomodação, maneiras de expor e guardar os trabalhinhos que deixavam a aula bem tranqüila, apesar da agitação normal de crianças de 6 anos. Houve momentos em que professoras foram me substituir e ficaram surpresas com a maneira como estavam organizados, independentes e cobravam certas rotinas. Passavam exatamente o que era para fazer. Dessa forma, cultivamos hábitos saudáveis, regras de convivência, que uma vez estabelecidas e combinadas certamente diminuirão os problemas de conduzir as atividades. No final de cada aula, havia além de um período livre, um espaço para uma espécie de show de apresentações, onde cada um que se inscrevesse podia narrar uma história, cantar uma música, contar uma piada, apresentar algo que queira para os colegas. O planejamento se dava de uma forma muito colaborativa, onde os alunos começaram a incluir atividades com sugestões, a partir do que já fazíamos, como por exemplo, após uma contação de história sugeriam a dramatização desta, ou inventar uma música. A leitura, a escrita estavam tão presentes que ao final do ano, mesmo sem esta obrigatoriedade muitos já estavam alfabetizados. Ampliar o mundo escrito foi fundamental, aprenderam a escrever seu nome como forma de se identificarem e identificarem seus pertences e produções, logo descobriram que identificar o nome de seus colegas de grupo era muito importante, na medida que havia rodízio dos colegas de grupo, aprendiam novos nomes ampliando cada vez mais as relações de leitura e escrita.
E esse planejamento não é válido somente para alunos pequenos, para os maiores, se não estão acostumados dá um pouco mais de trabalho, mas também dá bons resultados, uma maneira prática é a de sempre socializar com eles o planejamento, as estratégias, os encaminhamentos, incorporando as sugestões dadas por eles, dessa forma se sentem valorizados e motivados.