terça-feira, 18 de maio de 2010

Leitura e escrita além do processo de escolarização

Mais uma vez voltei a rever meu plano, analisar os fundamentos que baseiam a minha prática em sala de aula, independente de estar em estágio ou não. Essa é uma volta necessária e constante, procuro ter momentos sistemáticos de retorno, folhear meus planos de aula de início de ano e até de anos anteriores (aí a importância do registro) não para meras comparações vazias e sim para avaliar minhas ações.

Minhas ações planejadas estão atingindo meus objetivos de proporcionar aos alunos situações reais de leitura e escrita, na forma de um trabalho de letramento que contemple a necessidade da comunicação escrita. Foi aí que vi que extrapolamos as expectativas, pelo menos de exercício desta comunicação, quando ao surgir outras oportunidades reais, para solucionar problemas nossos nos utilizamos desta ferramenta de forma significativa e principalmente natural. Seja na forma de recados carinhosos às mães, pesquisa e registro de receitas para constar no caderninho de receitas presente, cartazes pela escola alertando para a separação do lixo, cópia da música para ensaio ( ao ensaiarmos a primeira vez sem a escrita da música, foram unânimes em dizer que era importante tê-la escrita para decorarem melhor), na redação de um bilhete alertando os pais para a infestação de piolhos que havia sido objeto de reclamação de uma mãe, que ao enviar um bilhete repassei o conteúdo aos alunos e juntos realizamos a escrita para ser enviado às casas. Isso reforça os objetivos que encontramos nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa:



“[...] utilizar a linguagem na escrita e produção de textos orais e na leitura e produção de textos escritos de modo a atender a múltiplas demandas sociais, responder a diferentes propósitos comunicativos e expressivos e considerar as diferentes condições de produção do discurso.” (PCN, p.32)



Também a possibilidade de entrevista conferiu um grau a mais em meus objetivos, pois quando surgiu a entrevista como um tipo de texto presente no portador jornal, que era inicialmente minha maior ferramenta, pensava mais sob a forma de exercício escrito. Ao trabalharmos com a primeira entrevista criada para um sujeito indeterminado, depois perguntas específicas para profissionais da escola e por último a entrevista com a mãe, foi possível ver tudo que estes trabalhos proporcionaram em termos de comunicação oral e escrita, interação com o outro e a própria experiência de aprender com os relatos colhidos.

Vemos que o trabalho com variedade de textos informativos, literários, de instrução, de propaganda e outros conferem muito mais que uma estratégia de leitura e escrita com fim em si mesmo, mas sim uma forma crítica de ler o entorno e poder utilizar-se da escrita para escrever suas interpretações, de conteúdo social, político, e também afetivo (visto a quantidade de cartinhas que recebemos e muitas vezes não valorizamos como um passo importante de significação para escrita).



“Portanto, quando se fala de tomar gêneros, e não meramente os textos ou os tipos de texto, como objeto de ensino, fala-se de constituir um sujeito capaz de atividades de linguagem, as quais envolvem tanto capacidades lingüísticas ou lingüísticas discursivas, como capacidades propriamente discursivas, relacionadas à apreciação valorativa da situação comunicativa ou contexto, como também, capacidades de ação em contexto. Fala-se de um outro modo de se produzir e de se compreender/ler textos em sala de aula.” (Rojo, 2006)



Esta fala de Rojo presente na coletânea de textos reunidos pelo MEC que tratam sobre as práticas de leitura e escrita vem reforçar minha ação em sala de aula. Confirmando a importância não só da estrutura dos gêneros trabalhados o enfoque passado por cada um destes meios de construção de conhecimentos como para além do processo de escolarização.

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