segunda-feira, 10 de maio de 2010

Avaliando

Esta foi uma semana que por ter muitas coisas para dar conta a sensação é de que o tempo foi bastante curto. Ao mesmo tempo em que precisávamos realizar os trabalhos alusivos ao dia das mães (algo que nem sempre enfoco tanto, mas que nessa turma teve uma enorme aceitação e envolvimento o que me fez dar mais espaço a essa comemoração) precisava seguir com meus objetivos iniciais que são os gêneros textuais, a questão da importância do ler e escrever, havia já pensado em logo iniciar os questionamentos com a turma sobre a importância desse processo e mais ainda instrumentos de avaliação para serem aplicados. E é óbvio que esses instrumentos interferem no processo, no sentido que retomo logo o que observo não ter ficado claro e isso afeta todo o plano semanal.

A avaliação tem sido uma reflexão diária e “noturna” passo muito tempo entre correções e planejamentos de intervenções para avaliar verdadeiramente não o aluno, como um produto final, e sim o caminho percorrido e minha postura como facilitadora dessa aprendizagem. Procuro manter um olhar atento durante a correção, analisando a resposta como um todo, vendo a hipótese que foi construída. Mas não é fácil, é bem angustiante ler, muitas vezes compreender qual foi o caminho que ele tomou mesmo tendo o resultado final incorreto e durante a aula voltar ao ponto, intervir de uma outra forma, mas continuar vendo uma certa dúvida, ainda não a certeza daquela apropriação.

Muitas vezes quando questionado, o aluno logo responde que já entendeu, pois parece incômodo ficar muito tempo numa situação de não compreender, de precisar de auxílio. Fico criando uma série de artifícios para que se motive, que o erro não tire o ânimo de seguir adiante.

Hoje mesmo iniciei uma conversa sobre nossas aprendizagens, sobre tudo que eles já conseguiram, que tudo foi um processo, que ninguém acordou num belo dia e saiu falando, ou andando, dos tombos do andar de bicicleta, e assim fui dizendo o quanto é bom depois olharmos pra trás e ver que teve esses tombos que valoriza nossa conquista. Percebi que entenderam meu recado, ficaram com rostinhos mais aliviados mesmo após alguns terem recebido avaliações que praticamente não conseguiram atingir o objetivo. Expliquei que a avaliação serve para eu ver o que já entenderam bem e o que teremos que trabalhar um pouco mais. Afirmei que todos vão aprender, que há tempos diferentes, que alguns aprendem mais rápido determinadas coisas, enquanto outros tem mais facilidade em outras.

Voltei a alguns textos que li recentemente, um deles ratificou as idéias que me acompanharam durante esta semana.



A avaliação não deve ser uma sanção externa do professor ou da sociedade em relação ao aluno. Para que a avaliação seja formativa e realmente eduque o aluno, deve conduzir a uma consciência clara de si mesmo perante a aprendizagem. É necessário que o aluno - com a ajuda do professor ao avaliá-lo- identifique suas próprias dificuldades e seus recursos. [...] A imagem de si mesmo, no papel de aluno, é determinante do êxito e do fracasso em tarefas escolares, já que fundamenta a motivação intrínseca e o sentido de esforço, imprescindíveis para aprender. Curto (2000. p. 215)



Penso que notas cumprem um papel motivador para os alunos que atingem os números altos e que vez ou outra não conseguem uma média razoável, aos alunos em processo são extremamente prejudiciais, é muito sofrido receber sempre as últimas colocações. Porém encontro-me num sistema que trabalha dessa forma, e devo encontrar um ponto de equilíbrio entre essa prática que por enquanto me é exigida de uma maneira menos prejudicial, mais justa, ou seja, menos sofrida para os envolvidos. E claro levantar essas questões para se pensar coletivamente em outras alternativas, em se propor a um outro olhar, a um outro tipo de registro.

Considero que tudo na vida, e isso se refere ao profissional também, é uma questão de espaço e tempo, que de acordo com alguns caminhos trilhados a experiência se torna diferente, os ponto de vista também. Digo isso, pois já trabalho nessa escola há alguns anos e acompanhei essa migração de parecer à nota, confesso que mesmo votando por parecer descritivo para compor nosso regimento, fui pouco convicta, não sustentei minha opinião em relatos práticos e teorias consistentes. Faltou-me talvez coragem e conhecimento para expor de fato o que acredito ser mais coerente. Também pesou o fato de que o ciclo de alfabetização (1º e 2º ano) trabalham com parecer, e eu por muito tempo trabalhei com estas turmas, assim não me apropriei tanto do problema. Precisei estar esse ano, nesse espaço como professora /estagiária com uma turma de 3º ano para incomodar-me tanto. Já dividi essa inquietação com a supervisão da escola, que por estar chegando agora à escola, isentou-se um pouco, mas além de concordar comigo, comprometeu-se em abordar em nossas reuniões pedagógicas esse ponto e aí é que terei de posicionar-me ao que considero uma postura mais democrática, menos classificatória.

Nas próximas semanas continuarei a aplicação de trabalhos, as leituras, as intervenções individuais, meus apontamentos quanto às observações que faço, pois considero-os imprescindíveis para conhecer o que compreende o processo que está sendo construído por cada um de meus alunos, paralelo a isso somando pontos, atribuindo pesos da melhor maneira possível.



Referências:

CURTO. Lluís Maruny, MORILLO. Maribel Ministral, Teixidó. Manuel Miralles. Como as crianças aprendem e como o professor pode ensiná-las a escrever e a ler. Porto Alegre. Artmed. 2000

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