terça-feira, 6 de abril de 2010

Ensino fundamental de nove anos

Essa é apenas uma reflexão inicial de um assunto que procurarei me aprofundar mais.
Desde que a Lei nº 11.274 de 06/02/2006 foi sancionada pelo presidente Lula, muitas indagações iniciaram em nossas escolas, sem falar na sociedade como um todo. E até hoje ainda há muita falta de esclarecimentos no meio educacional. Afinal de contas qual é a nona série? Essa é uma das perguntas que já ouvi várias vezes de pais, colegas e alunos.
A lei veio para oportunizar a entrada de todos aos seis anos de idade, aumentando o tempo de permanência na escola e iniciando mais cedo o processo de alfabetização, assim como possibilitando um tempo mais amplo para a alfabetização, que passou a ser um ciclo de dois anos, não apenas um. Alguns acreditavam que era possível e obrigatório que em um ano as crianças saíssem leitoras e escritoras alfabéticas, ou melhor, ortográficas.
Para quem como eu lecionou para 1ª série com alunos de 7 anos e se afligiu com o ano letivo de 200 dias para dar conta do processo inicial de alfabetização foi um ganho de tempo considerável. Muitas vezes tínhamos a sensação de que faltava muito pouco, que apenas mais algumas semanas aquele aluno estaria pronto, avançando de nível, enfim, lendo e escrevendo. No entanto o peso da aprovação para uma 2ª série, onde a cobrança seria muita nos deixava numa verdadeira encruzilhada. E ainda pesava o fato de sabermos que muitas crianças sairiam de férias e não teriam nenhuma espécie de apoio em casa para ir evoluindo em sua construção. A idéia de um tempo mais flexível e democrático soou muito bem, porém com isso vieram falsas idéias. Para muitos professores e pais a entrada aos seis anos neste 1º ano, era uma obrigatoriedade para o “antigo prézinho”. Sim, ouvi várias vezes que este seria um ano de preparação, e acho que muitos ainda pensam e o fazem assim. Sabe aquele período preparatório com exercícios de coordenação motora, pintar nos limites, trabalhar conceitos de longe, grande, dentro, etc? Esse mesmo! Não que isso não faça parte do período de alfabetização (uma parte).
Em 2008 foi a inauguração do 1º ano em uma das escolas que trabalho e logo me lancei ao desafio, pedindo esta turma. Era uma turma de 25 alunos, com seis anos, uns com quase sete, em uma sala que apesar das dificuldades (era um container destes de lata) estava planejada para comportar as mesas dispostas em grupos, com espaço para material de apoio. Foi uma experiência muito gratificante, não os via precisando de nada de preparatório para começarmos a alfabetização, o que iniciamos logo foi nos interarmos do mundo letrado que nos rodeava. O nome de cada um, passeio pelas ruas em busca de “pistas” deste tal mundo letrado, a magia da literatura, nossos recados, jogos, relatórios e outros escritos. A ansiedade por lerem e escreverem era imensa da parte deles e dos pais (e minha também). Leituras, capacitações, reflexões reforçavam a ideia de que era preciso uma proposta lúdica. E esse lúdico era a liberdade que eu buscava em tempos de 1ª série, onde havia a sensação de que uma tarde no pátio poderia estar sendo “perdida”, o tempo era um monstro, parecia que todos os minutos deveriam ser aproveitados para ler, jogar lendo, jogar escrevendo, cantar lendo, cantar escrevendo, ler brincando, ler escrevendo. Mas sempre, sempre ler e escrever.
O tempo oferecido me fez perceber ao final daquele ano, sem nenhum desespero, que o processo estava acontecendo de forma natural, havia muitos alunos alfabéticos, muitos outros no caminho do quase. A leitura e a escrita foi oferecida de forma natural, indagando com aqueles pequenos o que de fato entendiam por escrever, ler, o porquê daquela forma de registro, qual a importância desse código na vida de cada um. Puderam conhecer e exercitar funções que antes não apresentava para minhas turmas. E isso o curso (Pead UFRGS) e também o de Letramento oferecido através de uma parceria MEC e prefeituras foi fundamental para que me autorizasse a compartilhar com meus alunos textos dos mais variados possíveis. Terminaram aquele ano cientes do que estavam fazendo ali, compartilhando saberes, construindo conhecimento para o hoje e para o amanhã de cada um deles. Durante aquele ano, fui acompanhada por outra colega de turma que me oportunizou a troca de saberes, com quem aprendi muito. E agora em 2010 posso dizer que vou colher alguns frutos daquele ano, pois minha prática de estágio será desenvolvida com uma turma de 3º ano a grande maioria vinda daquela minha turma ou da de minha colega. Sei que tiveram alguns problemas em 2009 como troca constante de professor, o que talvez desestabilizou a continuidade do trabalho. Mas nas primeiras interações com eles ficou já notória a diferença de um 3º ano para uma antiga 2ª série. Vejo que alguns colegas não conseguiram se desprender de seus antigos planos das séries e só trocaram para anos, não adaptando o currículo, deixando dúvidas para os alunos e os pais em qual série (ano) realmente se encontram, teimando em relacionar á antiga tal série. Aboli isso do meu vocabulário, quando me perguntam respondo em ano e não associo a série, explico que dentro desta nova legislação o ensino fundamental todo está sendo readequado, que cada ano abrirá o seu currículo, que não será lá no nono ano que haverá um aumento de conteúdos.
Como disse essa é uma reflexão inicial, que está me motivando a ir além, pensar nessa nova estrutura com relação a todos os anos, reavaliar nossa “base de conteúdos” que ainda é uma prisão nas escolas.

4 comentários:

Rose tutora EAD disse...
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Rose tutora EAD disse...
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Rose tutora EAD disse...
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Rose tutora EAD disse...

Olá Gisele!
Tua reflexão sobre o ensino fundamental de nove anos demonstra que acreditas que a educação é um processo contínuo, que devemos prestar atenção em todos os passos que damos para sempre buscar suporte na teoria para termos uma prática com eficência, pois uma não convive sem a outra.
Abraços, Tutora Rose